Nasci no bairro Bela Vista, a poucos metros da Bebida Kirst Ltda, hoje conhecida como Bebidas Fruki com sede em Lajeado. Minha infância foi muito diferente dos hábitos que meus filhos – escravos do computador – tiveram. Ia a pé à Escola Luterana São Paulo num exercício naturalmente integrado à rotina. Mudanças só aconteciam quando minha mãe acompanhava o velho Giba em suas viagens, principalmente para a Serra gaúcha, para comprar vinho que era engarrafado pela firma Kirst.
Quando isso acontecia, eu ficava na casa dos meus avós maternos, Bruno e Wilma Kirst, que moravam no Centro da cidade, ao lado da igreja católica e como todo neto abusava do carinho que eles dispensavam e ganhava de tudo. De uma bola “número 5 nova” a sorvetes em profusão, passando por um par de Conga ou Kichute novos.
Arroio do Meio era uma cidade pacata que ficava silenciosa ao escurecer, à exceção da disputa do saudoso “campeonato de futebol de salão da praça” para onde todos acorriam para assistir a disputas acirradas. No verão também frequentávamos o rio Taquari ou fazíamos longas pescarias nos arroios no entorno da cidade ou na represa do seminário
Outro episódio que movimentava a cidade (e ainda movimenta) eram as eleições municipais. Amigos de cervejadas, parceiros de futebol e jogo de bocha e bolão ou companheiros de churrasco se transformavam em ferozes inimigos que nem se cumprimentavam. Lembro do bipartidarismo. MDB e Arena dividiam o eleitorado. Uma vez abertas as urnas – cujo trabalho demorava dias! – os vencedores faziam ruidosos desfiles. E em poucos dias tudo voltava ao normal.
A maioria das lojas era atendida por famílias
e todos se conheciam pelo nome e endereço
Hoje, quando visito a cidade, ainda estranho o intenso movimento de veículos e pessoas na rua principal e adjacentes, principalmente no começo do mês. Também me chama a atenção a quantidade de estabelecimentos comerciais e de profissionais liberais (médicos, advogados, nutricionistas, arquitetos, engenheiros).
Recordo com saudade algumas lojas que primavam pelas novidades e pelo atendimento personalizado, como aquela mantida pelo casal Alberto e Julieta Krey ou então de Melita Trentini ou do casal Xinxin e Clari Fleck, bem no coração da cidade. Lembro ainda da Casa Moesch, da Joalheria Technos, do posto de gasolina do saudoso Adolfo Poletto.
Aos 77 anos, Arroio do Meio parece sofrer de problemas comuns às cidades de médio porte, como a falta de emprego pleno, a proliferação das drogas e o aumento desenfreado da frota de veículos e dos problemas urbanos. Mas isso fica em segundo plano. Afinal, foi aqui que nasci, cresci, herdei conceitos e valores que balizaram minha vida e a de meus filhos.
O futuro e a solução dos principais problemas dependem decisivamente do nosso comprometimento. Não adianta apenas reclamar, acusar e adotar uma postura passiva. No bairro, no condomínio, na escola… seja onde, for é fundamental criticar, mas propor, ajudar, construir e ser solidário.
Esta é a diferença das comunidades que crescem, alcançam o desenvolvimento e empregam os benefícios disso para fazer um lugar melhor para nascer e viver.
Lembre disso sempre que votar, reclamar ou achar que tudo está perdido.
Parabéns, Arroio do Meio!