Basta subir a temperatura que a saudade bate forte. Saudade da praia, de andar de short, sem camisa, de fazer churrasco no meio da tarde e de noite. Saudade daquela sensação de que, por mais que a gente beba, não fica bebum à base de caipirinha e cerveja gelada. Saudade de pegar o carro sem destino até encontrar um lugarzinho qualquer para descarregar as cadeiras, a caixa térmica e ficar esparramado na areia.
Quando meu pai era vivo, tínhamos uma casa em Tramandaí. Era grande: três quartos, uma garagem enorme com churrasqueira e uma mesa com três cavaletes, gramado na frente e nos fundos. Passamos verões inesquecíveis, festas de réveillon, carnavais e feriadões gelados em pleno inverno. Era um ponto de encontro que o velho Gilberto adorava ver cheio de pessoas. Parece que ainda ouço meu pai: – Vou comprar uma casa na praia para ficar por lá de outubro a abril. Quando me aposentar, me mudo definitivamente pra lá!
Por ironia do destino, ele nos deixou um ano antes da tão esperada aposentadoria. Por alguns anos, mantivemos o imóvel, mas a manutenção era onerosa e exigia nossa presença mais frequente. A decisão foi vender a casa. Jamais revi o lugar onde passei tantos verões. Sei lá. Sofro só de pensar na sensação, na saudade e nas reminiscências que brotariam. Mas basta chegar a primavera para sentir falta de um refúgio mais tranquilo para curtir os finais de semanas de calor ou alguns dias de folga prolongada.
Lembro saudoso das tardes preguiçosas à beira do Taquari e da represa do seminário
Há algum tempo a ideia de comprar uma casa ou apartamento no litoral começa a me tentar. Confesso que preferia uma casa. Afinal, passo o ano “enjaulado” num imóvel encravado no quarto andar de um prédio cercado de dezenas de outros edifícios residenciais. Pisar na grama, lavar o carro, fazer guerra de bexiguinha e mangueira é um passatempo tentador difícil de resistir. Com dois filhos, recordo que infelizmente a insegurança grassa em todos os lugares. Não importa o tamanho. Pequenas comunidades na fronteira, no litoral, na região metropolitana ou na serra não são poupadas pelos “amigos do alheio”, como se conceituava os meliantes de antigamente.
Hoje, sem casa na praia, é preciso organizar as férias com grande antecedência. Bons lugares, hotéis e imóveis com preços atrativos precisam ser reservados meses antes do verão. E nem sempre é possível compatibilizar nossas férias com esta possibilidade. Uma logística bem organizada se impõe. Nascido e criado no interior, lembro com saudade as tardes preguiçosas à beira do rio Taquari e na represa do Seminário Sagrado Coração de Jesus, mas lamentavelmente meus familiares não curtem veraneio de água doce. Como ainda não programei nenhuma viagem ou atividade para o verão e já estamos na segunda semana de novembro, provavelmente passarei os piores meses de calor dentro de casa. Com o split ligado e o controle remoto da tevê comandando o espetáculo.