Aos 51 anos ainda me impressiono com as barbáries do noticiário policial e do trânsito. Leio estupefato que três jovens “bem apessoados” surraram um indigente em São Leopoldo, repetindo a gangue de Brasília que incinerou um índio há poucos anos. Proliferam os massacres das rodovias que não se restringem mais aos feriadões. Num exercício de psicologia barata pergunto para que serve tamanho volume de informações que, afora chocar, parece não ter efeito prático algum.
O mesmo ocorre com o consumo de bebidas alcoólicas ou com a ingestão de drogas. Sites, noticiários de rádio, tevê e jornais expõem em toda a plenitude todo tipo de informações do gênero. A síndrome da notícia negativa é uma marca do jornalismo brasileiro e gaúcho. Mas de que adianta?
Já contei pra vocês que costumo varar as madrugadas num extenuante leva-e-traz de meus filhos adolescentes Mesmo assim, não canso de me surpreender com a irresponsabilidade que começa dentro das próprias famílias. Pais que saem de bares diretamente para buscar os filhos na balada são muito mais frequentes do que parece. Desperdiço horas de sono a cada mês, mas não abro mão de buscar a gurizada nas festas. Não conheço a maioria dos pais dos amigos e amigas de meus filhos. Por isso adoto como lema o velho adágio “seguro morreu de velho”.
Lamentavelmente a ingestão de bebidas alcoólicas aliada à direção é um hábito profundamente arraigado em nossa sociedade. A chamada Lei Seca é um instrumento recente. A maioria dos jovens cresceu vendo os pais beberem no churrasco de família para depois dirigir tranquilamente até em casa. É uma questão cultural que exigirá algumas gerações até ser modificada.
Infelizmente o consumo, o exibicionismo e a falta de comprometimento são marcas da sociedade moderna
Até lá, o bom exemplo doméstico certamente será o melhor antídoto na busca de redução das estatísticas fatais que povoam as manchetes a cada segunda-feira. Com a chegada do calor, soma-se ao trânsito e à criminalidade dos finais de semana a alta ocorrência de afogamentos em rios, arroios, açudes e lagos no interior do Estado.
Também se trata de outra tradição incrustada junto às famílias que não têm acesso ao litoral para usufruir do mar. Lembro com saudade dos piqueniques na chamada Cascalheira – que, se não me engano, se localiza em Palmas. Íamos de caminhão entre 15, 20 pessoas, entre familiares e amigos. O maior castigo de nós, crianças, era esperar as famigeradas duas horas que separavam o almoço do momento de cair na água novamente.
Hoje a liberdade cada vez maior e mais precoce, conjugada à irresponsabilidade generalizada e ao despreparo para a maternidade/paternidade, aliados à falta de limites produziram um quadro assustador. Pais, educadores e autoridades se perguntam: o que fazer sem ofender o direito de ir e vir e não atentar contra as liberdades individuais?
Uma reforma completa no sistema educacional talvez seja o fio da meada para se iniciar uma mudança eficiente. Enquanto isso resta o esforço geral para mitigar os efeitos de uma sociedade onde o consumo, o exibicionismo e a falta de comprometimento com o coletivo impõem suas regras.