Há um tempo atrás, o Paulo Sant’Ana publicou em Zero Hora uma crônica sobre os sete pecados capitais – e aproveitou para confessar em público os erros que ele mesmo vem cometendo. Segundo a tradição cristã, os pecados capitais são sete: vaidade, inveja, ira, preguiça, avareza, gula, luxúria.
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Pois o texto do Paulo Sant’Ana – além de me lembrar das falhas que compõem o meu repertório privativo – trouxe outra coisa. Comecei a pensar numa lista de pecados coletivos, vamos dizer assim. Aqueles que a gente comete quase sem notar, só pelo fato de partilhar a cultura do lugar. Foi assim que cheguei numa lista de pecados brasileiros. Não sei se acertei na seleção dos mais-mais. Você, então, fique à vontade para verificar e dar palpite. Aqui está a minha lista:
1. Pecado do deixa-pra-lá. Mostra serventia quando se trata de cair fora. É útil toda vez que a coisa se complica. Ajuda a não esquentar, a mostrar que eu-não-tenho-nada-a-ver. Capaz!?
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2. Pecado da aparência. Serve para aviltar a seriedade. É um disfarce vantajoso. Por exemplo, ajuda a fazer bafo de grã-fino, a botar banca de sabido, a vir com pose de autoridade interessada em resolver alguma coisa, mesmo não estando nem aí pra nada.
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3. Pecado da fração. Relacionado com a estratégia de concentrar a atenção nas partes mais fáceis ou rentáveis do problema, em vez de abordar o assunto como um todo. Serve, por exemplo, para construir uma rodoviária ou uma ponte sem pensar nas vias de acesso.
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4. Pecado da simpatia. Manda não ser desagradável apontando falhas ou corrigindo alguém. Conta com a técnica de fazer que não se viu, de deixar correr assim no frouxo. É parente do pagar para não se incomodar e do ir levando numa boa.
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5. Pecado da conversa. Consiste em acreditar que falar é a mesma coisa que fazer. Permite produzir longos pareceres sem dizer nada. Corresponde a falar bonito, sem a mínima intenção de resolver bulhufas.
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6. Pecado do relógio. Referente ao costume de não ligar para a pontualidade, de não dar bola para entregar ou comparecer na data combinada. Encontra apoio no costume de largar a responsabilidade para quem não pode vir se defender.
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7. Pecado da demora. Tem a ver com o afã de se livrar de assuntos delicados. Utiliza o recurso de embromar e amorcegar. Não leva nem pra um lado nem pra outro, só embrulha. Serve para ganhar a folga necessária até que todo mundo esqueça o caso.