O ano se inicia com uma pauta que, se não fosse dramática, seria relegada à mesmice. Refiro-me à estiagem que assola novamente o Rio Grande do Sul e já foi tema de vários comentários neste espaço.
Depois de um inverno rigoroso, com baixas temperaturas durante muitos dias, o produtor rural enfrenta um fantasma que retorna com uma frequência preocupante. A chuva que destrói no Sudeste é raridade nos pampas.
Os moradores dos centros urbanos não têm a mínima noção das repercussões econômicas e sociais que a quebra da safra de diversas culturas provoca na vida das pessoas. O único indício será notado no setor de hortigranjeiros dos supermercados, onde os preços certamente irão disparar em poucos dias.
Me choca a ausência de uma política concreta no combate à seca. Lembro com nitidez Yeda Crusius durante a campanha eleitoral que a consagrou Governadora do Estado falar exaustivamente no tema da irrigação. Por isso, tenho sugerido a colegas jornalistas que confiram na prática como andam estes projetos, para onde foram os recursos prometidos nos palanques.
Ou as promessas (novamente) não foram cumpridas ou a implantação de açudes, poços artesianos e cisternas teve verbas desviadas ou mal aplicadas. Urge um esclarecimento para que os agricultores saibam o que realmente aconteceu com a esperança prometida repetidamente.
A seca prolongada no Estado é um fenômeno repetido, mas inexistem ações preventivas eficazes e duradouras
Sabe-se que os períodos de estiagem prolongada no Rio Grande do Sul são cíclicos. Isso, no entanto, não sensibiliza aqueles que administram o nosso Estado. Do contrário, qual seria a explicação para que eles ignorem esta realidade que se repete periodicamente onerando de forma comprometedora milhões de famílias no meio rural?
Tento imaginar a rotina desoladora do produtor rural. Antes do sol nascer ele desperta, mas não vislumbra uma nuvem sequer no horizonte antevendo mais um dia de calor escaldante e vento que prenuncia o prolongamento do sofrimento.
A sucessão de safras frustradas transforma o nosso colono em refém das instituições bancárias, escravo dos perdões oficiais – do governo estadual e federal. Não existe uma esperança crível no futuro.
Semear, rezar e torcer pela sensibilização geral. Esta e a sina do agricultor que nada mais sabe fazer a não ser produzir a comida que nos alimenta.
Convenhamos que a paciência desta gente, que carrega nas costas a outrora âncora verde, parece não ter limites, a exemplo da insensibilidade daqueles que deveriam estimular o aumento da produção.