O Natal e Ano-Novo pregaram uma peça nos veranistas que curtem apenas os finais de semana ou feriadões. Bastou o pes¬soal devolver os biquínis e calções aos armários em casa para que o sol voltasse com força. Parecia uma brincadeira de gato e rato entre o clima e aqueles que buscam desesperadamente uma folga na correria do dia a dia.
Esta verdadeira loteria em que se transformou a ida ao litoral me faz, uma vez mais, refletir sobre a iminência de tirar alguns dias de férias depois de três anos sem folgas à beira mar. A despesa é significativa. O leva e traz, o vai e volta, provoca um desgaste que compromete o espírito de descanso. Atualmente é impossível permanecer por mais de 10 ou 15 dias de papo para o ar.
O que fazer?
Ao mesmo tempo o organismo pede uma trégua. Costumo dizer que nesta época do ano agimos de forma automática. Deflagramos uma espécie de piloto automático que nos faz reagir por reflexo, sem raciocinar profundamente diante das circunstâncias de rotina.
Especialistas costumam dizer que o ócio é fundamental para manter a “máquina em funcionamento”. Neste aspecto enfrento uma dificuldade adicional. Acordo todos os dias antes das 6h. Mas é pela manhã que tenho mais energia, lembro de compromissos e detalhes, nascem os temas para redigir minhas colunas. É quando, também, traço as principais atividades a serem desenvolvidas ao longo do dia e que são religiosamente anotadas num pedaço de papel que carrego no bolso.
Com o cansaço crônico tomando conta, não terei outra opção senão sair em férias
Já à tardinha o cansaço se manifesta de forma mais intensa. Isso dificulta o cumprimento das tarefas mais árduas. Há meses reservo o início da noite para longas caminhadas e algumas corridas de curta distância, o que tem melhorado meu fôlego e disposição.
O movimento na maioria das praias e lugares mais badalados nesta época do ano me desanima. É difícil – e muitas vezes caro – investir em algum roteiro diferenciado. Minha mulher odeia campings, caminhadas, escaladas e mato. Ela curte chuveiro quente, roupa de cama perfumada e camas confortáveis acompanhadas de um bom café da manhã e um ar-condicionado perfeito. Neste clima de permanente indecisão e pouco ânimo para tomar uma atitude, assisto anualmente minha família partir para o litoral. Curto o calorão de Porto Alegre, de terno e gravata, mantendo a correria. Tenho sido resistente, mas confesso que aos 51 anos tenho repensado minhas atitudes de verão.
“Meteorologia prevê forte onda de calor entre 4 e 10 de janeiro”, diz agora o locutor na voz do rádio que permanece ligado sobre a minha mesa de trabalho durante todo o dia. Acho que não há saída: a solução é desacelerar, espiar o armário em busca de uma bermuda encardida, recolher um par de chinelos e caprichar no estoque de protetor solar.
Seja o que Deus quiser!
Afinal, o verão termina ali, logo adiante. Depois será choro e ranger de dentes… e ranger de janelas sacudidas pelo vento minuano gelado do nosso implacável inverno!