Antes do Natal saí, como faz todo mundo, a catar um vestido de festa. De cara, devo dizer que experimentar roupa não figura entre minhas diversões prediletas. Roupa bonita – quem não gosta de ter? Mas, experimentar… Experimentar é quase um suplício. No cabide tudo é bonito, mas vá provar para ver como a realidade pode humilhar.
Bom, continuando a história, fui a campo com a bravura possível. Selecionei um punhado de peças lindas. Cores boas, tecidos, idem. Não deu outra. Enfiava um vestido e olhava no espelho. Tinha que admirar a figura… e quase gargalha¬va em silêncio. Ainda bem que ninguém mais podia ver. Uns vestidos eram curtos, outros, apertavam de um lado e sobra¬vam do outro. Um feitio me deixava parecendo um marreco; com outro, eu teria abafado, talvez uns bons 30 anos atrás. Era impossível não rir diante no espelho. Um ridículo atroz.
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Fiquei com vergonha de experimentar tanta coisa e sair de mãos abanando. Comprei uma peça. Ainda não tive cora¬gem de usar, todavia.
Talvez seja o fato de vestir calça comprida a maior parte do tempo que torne tão difícil encontrar um vestido adequa¬do. Talvez sejam os modelos da moda que não favorecem as senhoras gordinhas. Não sei.
Só sei que o episódio rendeu uma ideia para dar serven¬tia ao vestido comprado e é dessa ideia que quero falar.
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Vê só. A festa à fantasia é um baita sucesso. Ali as pes¬soas têm licença para se transformar em pirata ou prince¬sa ou palhaço. Tudo fica possível. Pois é. Seguindo a ideia, e aproveitando o esforço com aquele experimenta-e-refuga que relatei mais acima, seria possível – talvez – criar a festa do ridículo. (Se alguém encontrar um nome melhor, viva!.)
É assim: na vitrine tudo parece bonito. Admiramos as saias justinhas com babados atrás, por exemplo. As cinturas marcadas em vestidos com pregas parecem um show. Mas ao vestir… que decepção!
Bom, aí é que está. Na festa do ridículo ficaria possível desfilar com os trajes que o bom senso proíbe. Quanto mais escroncho, melhor.
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A festa do ridículo seria uma vingança boa. Em primeiro lugar, uma vingança contra a moda que só favorece os boni¬tos. Em segundo, a chance de vencer o recalque. Não dar a mínima para o grotesco e sair. Sair com as roupas de sonho, aquelas mesmo que, de outro modo, jamais teríamos o peito de usar. Que festa!