Estou concluindo a leitura de um livrão. É um tijolo de mais de quinhentas páginas. Foi escrito por Henry Kissinger, homem que desempenhou a função assessor de Segurança Nacional e de Secretário de Estado nos governos dos presidentes americanos Richard Nixon e Gerald Ford.
Henry Kissinger esteve na China mais de cinquenta vezes, seja como funcionário do governo, seja no papel de consultor. Isso lhe deu a oportunidade de conviver com grandes líderes, conhecer profundamente as relações diplomáticas entre os países e, ao mesmo tempo, propiciou que Kissinger desenvolvesse uma grande simpatia pela China. Com essas credenciais, ele se debruçou sobre documentos e registros de conversas, animando-se a publicar em 2011 o tal livrão, intitulado “Sobre a China”.
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“Quase todos os impérios foram criados pela força – diz Kissinger – mas nenhum consegue se sustentar por meio dela. Os impérios persistem, se a repressão dá lugar ao consenso.” Assim ele explica a unidade atual da China. Depois de ter atravessado toda sorte de conflitos internos ao longo de sua história milenar, os valores e as crenças partilhados pelo povo chines são a real garantia da unidade do país.
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Os valores predominantes da sociedade chinesa têm base nos ensinamentos de Confúcio, um filósofo que viveu entre 551 e 479 antes de Cristo. Essa filosofia enfatiza a moralidade pessoal e governamental, a harmonia social, a justiça, a humildade, o valor do aprendizado constante. Aplicada às relações internacionais, a filosofia de Confúcio produz orientações como os seguintes:
• Nem todo problema tem solução, a obstinação na busca de soluções pode perturbar a harmonia do universo. É melhor ter paciência.
• Nunca arriscar o resultado de um conflito em um único embate de tudo ou nada. As manobras para a solução de um conflito podem durar anos.
• Em vez de reunir um poderio bélico superior, é preferível ir juntando força política e psicológica, de tal modo que o desfecho de um conflito vá se tornando cada vez mais previsível em favor de quem tem força política e psicológica.
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Segundo Kissinger, na China se acredita hoje que a ascensão econômica do país abrirá caminho para uma era de incomparável prosperidade, a ponto de que os produtos, a cultura e os valores chineses se tornarão o padrão para o mundo.
Será que o prognóstico se concretiza? Quem viver verá.