Tenho um amigo que enfrenta um dilema muito comum: optar ou não pela aposentadoria. Cheio de vigor e saúde, profissional competente e ostentando vitalidade por todos os poros ele está desgostoso com alguns colega de atividade. Além disso, a paciência está rarefeita e os desafios – depois de décadas de experiência – não provocam mais aquele “friozinho na barriga” dignos dos grandes desafios.
Curioso porque somente na última semana três amigos me fizeram a pergunta fatídica:
– E aí… quanto tempo falta pra tu te aposentar?
Respondi a verdade: nunca calculei quantos anos tenho de “carteira assinada”. Por isso não tenho a mínima ideia de qual o período de trabalho que devo ainda cumprir para ir definitivamente para casa.
Hiperativo assumido, tenho imensas dificuldades de imaginar meu dia sem acordar às 5h30min, dissecar quatro jornais ouvindo rádio e sorver um chimarrão enquanto os primeiros raios de sol despontam no horizonte. Para mim é uma sensação que se renova diariamente. Neste horário brota minha maior inspiração. É quando surgem projetos, ideias e recordo amigos, relembro fatos e revivo episódios que se transformam em artigos de jornal e histórias cuidadosamente acumuladas numa pasta de computador para um eventual livro biográfico.
Como já disse neste espaço – e para a fúria de muitos leitores – desde 2008 não gozo férias de verdade. Somente no inverno passado estive durante uma semana em Porto Seguro (na Bahia) por iniciativa da minha mulher. Admito que não foi o suficiente para baixar o estresse e recarregar as baterias em toda a plenitude.
Segundo meus queridos filhos, normalmente sou um chato de galochas que, de folga, se transforma numa gigantesca e pesada “mala sem alça”, um chato de inimagináveis proporções. É por isso que tenho dificuldades em levar adiante qualquer iniciativa que envolva uma redução no meu alucinante ritmo rotineiro. Acho que isso não é nada bom.
Confesso que o calorão do início da semana me fez pensar em pendurar as chuteiras…
Dificuldade em usufruir do ócio integral reflete insegurança, incapacidade de relaxar para aproveitar as coisas boas da vida. Costumo dizer que gostaria de deixar o Rio Grande do Sul e mudar definitivamente para o Nordeste para morar à beira-mar e gozar da água azul-turquesa, da água de coco, do clima ameno e do vento que nem de longe lembra o minuano. Seria o extremo oposto do meu atual ritmo de vida, mas paradoxalmente se constitui num desejo sincero e verdadeiro.
A mudança definitiva para um balneário permitira “estacionar” com calma, sem a preocupação em voltar, organizar tudo novamente e ter dia e hora para retomar a correria do dia a dia. Esta aposentadoria talvez seja a ideal para um cara inquieto como eu. A preguiça total, assumida e inofensiva, certamente prolongaria minha agitada vida de jornalista sem sossego à caça de notícias.
Enquanto a contagem dos anos de trabalho não constitui uma obsessão, toco a rotina de muita leitura e informação. Graças a Deus, meus familiares não compartilham da teoria “sem férias”. Parte da turma está em Capão Novo – minha mulher, filha e o cachorro – e o filho mais novo está em Vancouver, no Canadá, curtindo um período de intercâmbio com muito frio e neve.
Apesar de não flertar com a ociosidade, confesso que o calor escaldante do início desta semana se transformou em tentação. Com 31°C à meia-noite de segunda-feira, quase fugi em direção a Maceió ou Natal…!