Desde segunda-feira minha mulher e minha filha – e o cachorro maltês Fiuk, é claro, que ascendeu à condição de “neto” – se encontram no litoral. Afinal, trata-se quase de uma liturgia histórica de nós, gaúchos, que não resistimos ao hábito de acorrer à praia quando o termômetro passa dos 25°C.
Nestes 24 anos de casado, foram raros os períodos ao lado dos familiares. É uma culpa que assimilei, mas que – confesso – me incomoda de vez em quando. O último veraneio familiar, lembro muito bem, ocorreu em 2008. Por duas semanas me deleitei com as maravilhas de Santa Catarina, mais especificamente de Jurerê. Mas não aquela “internacional” onde espumantes são arrematados por 2 ou 3 mil reais em arroubos de megalomania e ostentação vulgares.
Prefiro a pequena e tradicional vila de Jurerê localizada ao lado da homônima dos “novos ricos” que adoram a capa da revista Caras. O lugarejo possui um pequeno armazém, duas bancas de jornais, algumas poucas sorveterias, meia dúzia de bares e muita tranquilidade. Meus filhos eram pequenos, mas andavam com desenvoltura pelas calçadas, atravessavam as ruas sem susto e aproveitaram a valer o sol, a areia e o mar.
Ao redigir estas maltraçadas, encontro-me no segundo dia da minha “liberdade vigiada” – por vizinhos, amigos e conhecidos. Costumo dizer que minha maior alegria nesta folga familiar é ouvir meus CDs – sim, pode debochar… mas sou daqueles que ainda compra CDs! – a todo volume. São presentes de Natal que raramente tenho oportunidade de curtir, quase sempre intactos com embalagem de Natal e tudo! A gurizada toma conta dos eletroeletrônicos, escolhe o repertório e os velhos da casa que se adaptem. Fazer o que, não é mesmo?
Tenho muitos planos para minha “liberdade vigiada”, mas desconfio que ficarei no sofá, curtindo meus CDs
A cada ano a população de remanescentes nos meses de verão em Porto Alegre aumenta assustadoramente. Fui ao shopping no sábado e me surpreendi com um engarrafamento digno de um final de semana normal. O tempo chuvoso – que se iniciou na sexta-feira e só melhorou no domingo – levou uma multidão a passear, conferir as liquidações ou simplesmente sair de casa.
As despesas de final de ano certamente transformaram muitos sonhos de longas férias em períodos de confinamento no calor massacrante da Capital que se intensificou na semana passada de forma impressionante. Ao ser publicada esta crônica, devo ter passado dois dias (quarta e quinta-feira) em viagem, o que compromete meu objetivo de contatar velhos amigos para um choppe acompanhado de uma tábua de frios.
Pretendo colocar em dia a leitura de inúmeros livros que se acumulam na cabeceira da cama, separar roupas de inverno e outras surradas usadas em diversos verões, encher a lixeira com tralhas que ficam no fundo de armários e gavetas. A cada verão as intenções se renovam, mas cá entre nós… desconfio que vou me esparramar no sofá, curtir algum filme velho na tevê a cabo ou adormecer ao som de Eric Clapton, João Bosco ou Paul McCartney.
Pelo menos a seleção de músicas e a escolha dos filmes estarão na palma da minha mão, segurando firme o controle-remoto…