O universo infantil não se restringe aos cuidados físicos e educacionais, embora estes aspectos ocupem a maior parcela da preocupação de pais e responsáveis. Fiquei estarrecido ao esbarrar com a notícia – publicada no site da revista Veja – de que, no Brasil, 80% das crianças têm algum sintoma de estresse infantil.
A pesquisa, realizada pela Isma-BR, representação brasileira da International Stress Management Association – entidade presente em 12 países que trabalha a prevenção e o tratamento do estresse – acrescentou que tontura, vômito, dor de barriga, cefaleia e uma série de outros sintomas físicos comuns na infância podem ocultar problemas de relacionamento, insegurança, depressão e estresse.
A presidente da Isma-Br, Ana Maria Rossi, disse que “o nosso organismo não diferencia se a criança está tendo dor de barriga porque está ansiosa ou porque comeu maionese estragada. A fonte é bem diferente, mas a sensação de dor e desconforto é semelhante”, explicou.
O levantamento, realizado com 220 crianças de 7 a 12 anos, em Porto Alegre e São Paulo, revelou que entre os sintomas físicos resultantes do excesso de tensão, foram citados dores musculares (dor de cabeça e de barriga), distúrbios do sono (pesadelo, sono agitado e insônia), diarréia, constipação, enjôos e náuseas.
Já as consequências emocionais se traduzem em nervosismo, medos, irritação e a impaciência. As mudanças comportamentais incluem agressividade, passividade, dificuldade de relacionamento, alterações no apetite – incluindo o aumento no consumo de doces – e o choro sem motivo.
É incrível a quantidade de atividades que alguns pais impõem aos filhos que ficam sem tempo para brincar
É incrível a complexidade de sintomas e motivos, mas o que chama a atenção foi o alto índice da incidência de estresse entre as crianças. Tento imaginar algumas causas, como a correria diária dos pais – e o consequente distanciamento -, a multiplicidade de interesses da gurizada com dificuldade para se fixar um ou dois alvos objetivos, a frustração resultante da falta de diálogo com os responsáveis e, em muitos casos, a ansiedade dos pais que lotam a agenda da piazada com as mais diversas atividades (balé, aulas de natação, informática, karatê, futebol, inglês, entre outras).
O estudo aponta ainda a rotina atribulada como uma das principais causadoras da tensão entre os pequenos. “As pressões colaboram para que as crianças, cuja única responsabilidade deveria ser a de estudar e brincar, tenham uma série de obrigações que as levam a exercer uma rotina digna de pequenos executivos”, adverte Ana Maria Rossi.
Outro destaque do levantamento: “A criança às vezes mente, diz que tem dor de barriga ou dor de cabeça, apenas para não fazer alguma atividade. O fato é que não importa se ela está inventando ou não. O importante é descobrir porque a criança está fazendo isso”, aconselha a especialista. E conclui: “Se os pais desconfiam que as queixas podem não ser reais, devem conversar com as crianças. Ela só vai fazer isso se não estiver bem. É preciso descobrir o que está havendo”.
Como se pode notar, trata-se de um assunto de extrema importância, mas que lamentavelmente nem sempre é tratado com a seriedade que merece.