A coluna da amiga e sempre mestre Ivete Kist veiculada na edição do dia 20 de janeiro no nosso O Alto Taquari é de uma felicidade ímpar, sem trocadilhos. Uma crônica ou um texto que ao final arranca de nós a expressão “Puxa vida! Como eu gostaria de ter escrito isso!” acaba de receber uma certidão inequívoca de qualidade. E este é justamente o caso!
“A ciência da felicidade” toca num ponto nevrálgico da vida atual. Imediatismo constante, consumismo exacerbado, exposição pública a todo custo e necessidade de se transformar em celebridade – mesmo que por 15 minutos e via internet – tornou-se obsessão para significativa parcela da humanidade. E isso não se restringe a jovens, adolescentes ou imaturos. Há devaneios irresolutos na busca da felicidade instantânea e eterna em todos os quadrantes. Dos barzinhos da moda aos clubes da saudade onde a nostalgia é trilha sonora dos casais desnorteados pelas desilusões do passado.
Considero equívoco mortal a tentativa incansável de, por exemplo, encontrar a “sorte grande” que tornará o pobre vivente um milionário. E que isso será chancela de felicidade. Também se busca a alegria eterna na caça ao príncipe (ou princesa) encantado (a). Viver e curtir intensamente as pequenas conquistas do cotidiano, perdoar eventuais predadores que tentam nos ferir e manter o bom humor me parecem ingredientes infalíveis na receita de busca da perseguida felicidade.
Capturar pequenos fragmentos das alegrias do cotidiano ajudam a construir a felicidade
Infelizmente a publicidade e as frustrações humanas nos levam a gastar mais energia nas lamentações do que nas comemorações. Em minha casa, sou alvo de gozações permanentes pelo fato de, a cada refeição, erguer o copo – mesmo que originalmente seja uma embalagem de requeijão ou de extrato de tomate – para saudar uma alegria qualquer. “Nem que seja pelo fato de estarmos juntos e com saúde”, costumo repetir.
À primeira vista pode parecer algo piegas como os adágios de almanaque. Mas serve de combustível que me estimula a lutar pela sobrevivência e pela alegria de viver. A felicidade instantânea, intensa e eterna talvez seja uma miragem idealizada desde as estórias que nos contavam e que se iniciavam com “era uma vez” e terminavam com “e viveram felizes para sempre”.
De lá para cá amadurecemos, sonhamos, sofremos, crescemos, mas nem sempre compreendemos a extensão da busca frenética pela alegria eterna. A ciência da felicidade, talvez, resida em capturar pequenos fragmentos positivos no cotidiano, driblando o comodismo, a mesmice e o imobilismo diante de obstáculos que emperrem o prazer de viver. A dois, em família ou comunidade.
Talvez o barato da felicidade seja o que está perto, ao nosso alcance, ao invés do devaneio das metas inatingíveis que nos frustram e tirem o brilho de nossas conquistas.