Assim como a famosa Luíza, meu filho Henrique, 16 anos, voltou do Canadá depois de um mês de intercâmbio. Suas expectativas foram plenamente satisfeitas. A diferença de cultura transformou o adolescente que recentemente desembarcou no Salgado Filho. Só parou de desfiar suas surpresas ao ser derrotado pelo cansaço de quase dois dias viagem .
O mais chocante para o guri foi a inabalável observância às leis e regras de convivência que regem a rotina dos moradores de Vancouver, cidade jovem e moderna. O ônibus para a escola chegava à parada pontualmente às 7h54min todos os dias, os tíquetes trazidos de lá comprovam. Mas as surpresas eram diárias. Chegando ao ginásio onde se disputava um clássico local de hockey no gelo, o adolescente ficou boquiaberto: “As poltronas eram reclináveis, iguais as do cinema, e a limpeza era impecável. Ninguém jogava objetos na torcida adversária ou xingava o juiz!”, garantiu.
Ao alugar uma bicicleta para conhecer a cidade ele recebeu um capacete, acessório que pretendia dispensar: “Tudo bem, mas a multa por desrespeito às leis de trânsito é de 100 dólares”, avisou o balconista apontando para um guarda fardado localizado junto à ciclovia. Depois de horas de depoimentos recheado de novidades ele virou para mim e indagou: “Pai, por que aqui tudo é tão bagunçado, diferente, heim?”.
O que dizer ao filho que conheceu um país onde as leis são feitas pra valer? Agora compreendo porque tantos jovens viajam e não querem voltar…
A causa deste fenômeno tipicamente verde-amarelo talvez resida no fato de que a educação jamais alcance, com a devida intensidade, as camadas sociais mais carentes. A organização de uma simples avaliação – como o Enem – é fonte anual de denúncias de manipulações, desvios e favorecimentos.
A experiência do Henrique me faz compreender porque tantos jovens vão ao exterior e não mais retornam, num êxodo crescente. Longe de cultivar o “complexo de vira-latas”, consagrado por Nelson Rodrigues, mas para nós, pais, é uma tarefa inglória convencê-los de permanecer.
Como evitar que eles, cheios de sonhos e com o mundo ao alcance, através da tela de um laptop, deixem de realizar seus sonhos num lugar onde a lei existe para ser cumprida?