A maioria das crianças ainda está de férias, com o dia todo disponível. Podem dormir, brincar sem hora certa, inventar bagunça ou não fazer nada. O tempo está aberto à frente delas. É uma vastidão de limites frouxos. Afinal, com um calor destes, quem tem coragem de fiscalizar horários? Além do mais, quase todas as escolas estão fechadas e as opções de recreação são poucas.
Nestas condições parece aceitável relaxar a guarda e pensar que é possível dar férias também para nossa preocupação de pais. Se estivemos de olho o ano todo, não seria a hora de ter algum descanso?
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Pode ser que seja exatamente esse o pensamento dos pais do grupo de meninos que vejo diariamente nos computadores de uma sala de internet e jogos. Eles batem o ponto ali da manhã à noite. Formam uma turma animada e barulhenta. Sentam-se diante dos computadores e, sem exceção, abrem um jogo que os magnetiza a todos. Trata-se de acertar alvos humanos com metralhadoras que são fera. A tarefa parece difícil de cumprir. Só consegue quem tiver muito treino e pontaria. Quando dá certo, o alvo explode com extraordinário realismo. A pessoa sai literalmente arrebentada pelos ares. Membros ficam espalhados por tudo quanto é lado.
Aí é uma festa! A gurizada comemora como se fosse um gol de fim de campeonato. E tocam todos a tentar de novo. A dar tiros e mais tiros, até, por fim, matar alguém mais uma vez. Urra!
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Parece desnecessário ter formação sofisticada para notar que alguma coisa anda mal nesse cenário. Nossas crianças estão se divertindo no exercício de matar gente. Querem ficar sabidas, mas não em história natural ou geografia. O desafio é afinar a mira. O prazer reside em detonar e destruir. Buummm!
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Sim, claro, é apenas um jogo de computador e eu certamente estou ficando um pouco antiga para julgar tecnologias. Mas você diria o quê, se visse presidiários com uma diversão parecida? Não ia pensar que o exercício tinha tudo para incrementar as tendências destrutivas, que, aliás, todos temos aqui dentro?
Se é assim, como podemos assistir nossas crianças afinando a pontaria e aprendendo a matar melhor? Não seria prudente evitar, tirar do alcance, banir as brincadeiras desse tipo?
Se estou falando uma bobagem, me desculpem. Continuo achando que serenidade e paz também são coisas que se ensinam às crianças. E que o pepino a gente torce bem de pequenino.