Dentro de pouco mais de sete meses teremos mais uma eleição. A eleição mais importante para a vida de todos os brasileiros. Serão eleições municipais que indicarão o prefeito e os vereadores de cada um dos mais de cinco mil municípios brasileiros. Isso significa que indicaremos os responsáveis pelos destinos da nossa comunidade pelos próximos quatro anos.
Infelizmente trata-se do pleito com a menor cobertura da imprensa. Não bastasse este descaso que pauta a população em geral, o resultado de algumas grandes cidades – principalmente as capitais – o noticiário encaminha para o pleito federal, especialmente para presidente da República.
É na cidade que todos nós vivemos, trabalhamos e produzimos a riqueza do país. É aqui que nossos filhos frequentam a escola, onde adquirimos nossos bens e onde buscamos socorro para nossos males. A falta de valorização da eleição municipal se reflete no desânimo de todos nós.
É incomum encontrar um eleitor que lembre, sem hesitar por alguns segundos, dos nomes sufragados há quatro anos. Também é raro localizar alguém que acompanhe o site ou portal dos eleitos para conferir as promessas proferidas na campanha eleitoral. Ao invés disso, optamos pela queixa, pela crítica fácil e pela generalização que, por si só, é um equívoco que enfraquece a democracia e reduz a importância do voto direto. Mas que parece ter se transformado em esporte nacional que revive o fantasma do totalitarismo.
Durante décadas os brasileiros foram escravos do pensamento único, da falta de espaço, vez e voz para manifestações de oposição. A mudança radical custou muito esforço, dedicação e vidas, mas a repetição de eleições diretas, ao invés de fortalecer o sistema democrático, parece ter enfarado o eleitorado.
O pleito municipal deveria concentrar nossas maiores atenções. Deficiências no transporte coletivo, falhas de manutenção dos equipamentos públicos, escassez na saúde e malversação de recursos oriundos dos nossos impostos parecem que não sensibilizam o eleitor. Estes temas, que estão na rotina de todos nós, não merecem cinco minutos de nossa atenção.
A proliferação de notícias negativas envolvendo prefeitos e vereadores apenas aumenta o descrédito dos eleitores
É ínfimo o percentual de eleitores que já assistiram a uma sessão legislativa de sua cidade. Mas é ali, neste ambiente tão distante da informalidade da nossa rotina, que a taxa de lixo – por exemplo – é fixada. Inclusive em muitas comunidades onde este serviço sequer é colocado à disposição do contribuinte.
Nós, da imprensa, temos nossa parcela de culpa neste pouco caso relegado às questões municipais. Prefeituras e Câmaras Municipais quase sempre são manchetes ligadas a escândalos, brigas entre vereadores, desvios e todo tipo de notícia negativa. É impossível que não exista pelo menos uma pauta positiva no Executivo ou no Legislativo em cada um dos municípios gaúchos. A obsessão pela notícia ruim – aquela que “vende” jornal e audiência em rádio e tevê – se generalizou.
Muita gente defende o fim da obrigatoriedade do voto para moralizar a política. Outros dizem exatamente o contrário. Argumentam que isso estimularia a distribuição de lanches, bônus e cestas básicas como pagamento em troca da ida à sessão eleitoral. O debate é interminável, mas enquanto não são feitas alterações é preciso jogar com as regras vigentes.
Pensar no futuro dos filhos, na criação de mais empregos, na implantação de esgoto e abastecimento de água e na oferta de moradia popular digna é votar conscientemente e acompanhar a trajetória dos eleitos.
Isto pode parecer devaneio de final de verão, mas também pode significar mudanças importantes para o início de uma nova cidade, espaço onde todos vivemos. Existem instrumentos para viabilizar esta fiscalização. Basta querer. E espantar os eternos pessimistas.