Mais uma vez os professores foram para a rua gritar por aumento dos salários. Uma gritaria tão antiga quanto aparentemente inútil. Já se gritou tanto ao longo dos anos que o simples fato de ainda sobrar ânimo de gritar é admirável. Quase se esperaria que os professores tivessem pendurado as chuteiras e deixado suas escolas para as moscas – e para as crianças, claro, que continua a haver crianças apesar de tudo. A admiração cresce quando se observa a transformação operada entre candidatos e eleitos. É sempre a mesma coisa: promessa de campanha é simplesmente uma rede para pescar esperanças. O atual governador, por ter sido ministro de Estado e por ter discursado tão bonito a favor de um piso nacional melhor, representava um baluarte de esperança, que também caiu. O estado do Rio Grande não tem dinheiro para pagar os professores. Não tem dinheiro agora como não tinha lá atrás, no tempo em que o dinheiro era prometido no palanque eleitoral.
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No meio do furdunço, pode parecer difícil compreender por que tantos professores investem o melhor da vida no exercício do magistério.
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Cada caso é um caso. Mas muitas vezes acontece que o professor fica envolvido pelo impacto do projeto que ele abraça e tudo o mais passa para plano secundário. Pense num operário que costura tiras; pense num empregado que confere números e põe carimbos; pense em toda a gente, mesmo nos altos quadros, que trabalha pelo salário e não vê sentido no que faz. Um professor sempre vê sentido. Impossível ficar indiferente a uma criança. Especialmente, quando se pode participar do seu desenvolvimento, quando se pode cooperar para que tenha melhor chance de se dar bem na vida e de ser feliz.
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Uma profissão – como esta do professor – que não dá refresco, que exige constante movimento, que impõe desafios mil, que demanda estudo permanente, é uma profissão que garante um retorno por si mesma.
Quem sabe se, ao fim e ao cabo, o melhor resultado para quem ensina acabe sendo esta chance de nunca parar de aprender.