Os especialistas em mídia garantem que o próximo grande debate vai girar em torno da transmissão das lutas de UFC – ou vale-tudo como alguns preferem – por parte da Rede Globo. Depois de peregrinar timidamente por canais de tevê a cabo e depois na Rede TV onde roubou preciosos pontos de audiência da Vênus Platinada finalmente ganhou status de produto de alta qualidade. Com direito à exibição em pleno sábado em horário nobre e vários subprodutos.
A polêmica gira em torno da pertinência em mostrar este tipo de “esporte”. Isto mesmo, entre aspas. Acho irrelevante toda esta energia gasta na discussão que se trava principalmente no centro do país. O polêmico e multimídia Juca Kfouri, com espaços sites, jornal, rádio e tevê, compara o UFC com as bárbaras lutas romanas onde cristãos eram devorados por ferozes leões.
Considero desnecessário o bate-boca por causa de um tema tão restrito. Considero infinitamente mais nociva a maioria dos conteúdos veiculada, por exemplo, nas novelas que invadem milhões de lares e com nossa anuência. Há tempos que me distanciei das tramas melodramáticas sempre marcadas pelo apelo sexual. E homossexual com grande destaque.
Ontem à noite (segunda-feira), porém, sentamos para jantar quase ao final do Jornal Nacional, por sinal marcado pela artificialidade indisfarçável de Patrícia Poeta. Estávamos em meio à refeição quando Avenida Brasil irrompeu sala adentro. Dei-me o trabalho de furtivamente assistir a exatos dois minutos. E constatei que nada mudou das últimas “maravilhas” que acompanhava atentamente. Vislumbrei uma moça, parece chamar-se Suelen, que tudo consegue pela simples exibição do corpo, argumento velho e batido. Escondida, mostrava os seios a um atônito jovem que tentava disfarçar enquanto conversava com um amigo estirado no sofá.
Graças à Rede Globo o sexo é cada vez mais precoce na vida das famílias brasileiras. Já temos milhões de residências conectadas com a Net, Sky e outras operadoras de tevê a cabo, mas parece impossível fazer frente aos produtos globais que, salvo exceções, exploram à exaustão a libido e todas as suas consequências como infidelidade conjugal (e a consequente bigamia), além do homossexualismo e do sexo explícito nas suas mais variadas manifestações.
Sandy passou de inocente à devassa e agora comanda uma atração de péssimo gosto exibida nas noites de domingo
Não sou ingênuo, tampouco puritano, mas gostaria de ver a maior rede de televisão do país usar seu poder para veicular conteúdos mais construtivos. Colocar umas poucas fotos de crianças desaparecidos no vídeo é uma compensação irrisória diante da enxurrada de baixarias mostradas a cada dia. Felizmente cessou a exploração do espiritismo, alternativa usada recentemente para “fazer média” com a audiência que cada vez mais acorre às religiões evangélicas e às filosofias alternativas.
A estratégia da Globo na “venda” de seus produtos é uma espécie de cerco ao bom senso. Quem foge das lutas de UFC nos sábados à noite recebe o bombardeio de péssimo gosto comandando pela patética Sandy, a menina da Devassa, cerveja que descobriu “o ovo de Colombo” ao escolher a ex-inocente romântica como garota-propaganda.
Ela comanda o reality show, um festival de absurdos que se desenrolam dentro de uma casa, como se não bastasse o Big Brother Brasil. Não satisfeitos, os caciques globais resolvem produzir um Profissão Repórter com destaque para o maior lutador do mundo, o brasileiro Anderson Silva. Apesar do esforço, do patrocínio pesado da Globo e da publicidade massiva, o desportista não disfarçou o descontentamento com conteúdo do programa que o mostrou “marrento”, “mascarado” e ingrato com o passado humilde de pobreza na periferia de Curitiba.
Autora de sucessos de repercussão mundial, a Rede Globo pode se orgulhar com seus prêmios de reconhecimento internacional. Infelizmente a concorrência está longe de ameaçar a liderança da “plim-plim” de Faustão, Ana Maria Braga e tantas outras atrações que desafiam a inteligência dos brasileiros.