Este ofício de escrever é mesmo estranho. Em primeiro lugar, nem parece que é um trabalho. Olhe só. O trechozinho aqui, que você lê tomando chimarrão e com um olho na TV, parece que se fez sozinho. Você lê, dá um bocejo e vira a página. Pronto. O jornal já fica destinado a embrulhar banana.
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Aparências costumam enganar.
Pelo menos no meu caso, escrever é um trabalho parecido a carregar pedra – sim, fora a vantagem de eu poder sentar na sombra. Há, ao menos, duas peleias a vencer. Primeira: arranjar assunto. Depois, descobrir um modo de falar a coisa que se vai falar. Você vai dizer que tem tanto assunto por aí, que frescura é essa?
Assunto tem, claro, mas o negócio é encontrar algum que se deixe olhar de jeito próprio. Se fosse para dizer o que todos já têm dito, qual seria a graça?
Se aqui está a graça, é exatamente aqui também que o perigo mora. Nunca se sabe, e nem há tempo de perguntar, se alguém mais simpatiza com o tal do assunto que a pau e corda se escolheu. Em resumo e, exagerando um pouco, este ofício de escrever lembra o náufrago que coloca sua mensagem numa garrafa, lança a garrafa ao mar e fica esperando que alguém a encontre e se interesse.
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Escrever é um ato solitário. Você está sozinho quando escreve. Nem sequer sabe se alguém vai ler a sua coluna. Também não sabe se acerta o gosto ou se agride o pensamento do leitor. Ou seja, é um escuro só. Você fica em permanente dúvida: vale ou não vale o risco de dizer coisas que, ainda por cima, podem ser mal-interpretadas?
É por isso mesmo que é um alívio quando chega algum retorno. Ao menos uma boa alma leu as mal traçadas linhas! Agora, se acontece de o escrevinhador estar metido num período de tristeza e luto, o aceno do leitor é melhor que esmola. Vem como um consolo, uma delicadeza com valor de abraço. É um incentivo e tanto.
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Tudo isto que acabo de dizer tem um objetivo só. Quero agradecer os recados que me chegam. Mesmo que você diga que bate o ponto aqui, só pra dar uma forcinha, mesmo assim merece um beijo. Logo se vê que é uma pessoa de bem.
Obrigadão, gente, pela honrosa companhia.