Com a sensibilidade e a inteligência que caracterizam a coluna “Carta Branca”, minha eterna professora Ivete Kist relatou com extrema felicidade no último dia 20 as agruras do cotidiano de quem tem a obrigação de elaborar uma coluna de jornal. Sob o título “Este ofício de escrever” ela traça, com riqueza de detalhes, o processo que se inicia com a escolha de uma ideia até o ponto final do texto pronto que se constitui numa espécie de escultura para o seu autor. Afinal, trata-se de uma obra pensada em cada detalhe.
Aqui vai uma confissão: a dificuldade em abordar um tema que mexa com o leitor muitas vezes nos tira o sono. Escrever é muito diferente, por exemplo, de fazer um comentário de rádio. Ali, a entonação da voz e a ironia que brota das nuances entre pausas emprestam o tempero necessário para manifestar nossas opiniões. A simples reação de um ouvinte ao lado pode delatar uma opinião. Redigir, no entanto, é um processo mais complexo. A diversidade do público leitor é um enorme obstáculo na hora de escolher a linguagem adequada e raramente se tem tempo para submeter as mal traçadas linhas a um crítico.
A tela em branco diante dos olhos é um desafio que – vamos admitir – às vezes é superado com relativa facilidade. São os raros dias em que as ideias fluem com facilidade como se estivéssemos copiando um texto. Infelizmente não tenho a mínima vocação para escrever sobre ficção. Por isso, prefiro descrever experiências pessoais, histórias da minha vida profissional ou causos ocorridos em âmbito social como vocês já notaram ao longo destes anos de contato.
Como conceituou com extrema propriedade a colega Ivete Kist, “escrever é um ato solitário”. Muitas pessoas próximas até arriscam palpites, sugerem temas ou oferecem sugestões das mais variadas matizes. Mas na hora de colocar no papel – ou na tela do computador – a obrigação é de quem assina o espaço. E aí o fantasma da responsabilidade cresce assustadoramente!
Com sensibilidade brilhante Ivete Kist descreveu
a alegria ao constatar que o leitor está conosco
Frequentemente publico minhas crônicas em alguns jornais do Interior do Estado e esporadicamente em publicações de Porto Alegre. Uma recente coluna publicada no jornal NH, de Novo Hamburgo, fez um leitor despertar às 5h30min para redigir um e-mail que, impresso, consumiu quatro folhas de papel.
Não entrarei em detalhes a respeito do conteúdo que, por sinal, era muito pessoal e girava em torno de um grave drama familiar. Relato apenas que a repercussão do meu texto junto ao leitor me deixou chocado. Antes, confesso, fiquei lisonjeado pelo retorno do missivista. Cada manifestação do leitor é motivo de alegria, independentemente do conteúdo. Afinal, a indiferença machuca muito mais do que qualquer e-mail mal-educado, injusto ou agressivo.
Ivete Kist agradeceu, ao final da sua coluna, os recados encaminhados pelos leitores. A companhia dos destinatários das nossas ideias é um bálsamo ao esforço semanal de trazer ao debate temas instigantes. Nem sempre acertamos, mas a tentativa é permanente, podem acreditar.
A certeza de que pelo menos uma vez conseguimos mexer com a sua emoção, prezado leitor e leitora, compensa qualquer frustração, tristeza ou indiferença que um dia sofremos. “Conversar” aqui todas as sextas-feiras é um belo exercício de imaginação e realidade!
Ah… e com relação à coluna da amiga Ivete, ao final, fiquei com aquela sensação que chamo de inveja branca: “Puxa vida! Como eu gostaria de ter escrito tudo isso!”.