Estou impressionado com o relato de um amigo que, no alto de seus 55 anos de homem separado, coleciona no computador histórias de mulheres de várias idades e que pretende transformar em livro. Solteiras ou casadas, a esmagadora maioria busca apenas um pouco de carinho aqui, de atenção ali e ou de alguém que as trate com sensibilidade acolá.
“Puxar a cadeira na hora de sentar à mesa no restaurante, abrir a porta do carro ao desembarcar ou simplesmente elogiar a roupa constituem motivo para que se sintam valorizadas”, contou o profissional liberal da área do direito. Ele explica que muitas vezes são mulheres lindas que perderam o ânimo de usar uma bela maquilagem, frequentar uma academia ou apenas valorizar seus dotes físicos.
De comum, ainda, elas têm o fato de terem vivido histórias frustrantes de amor ou mantêm relacionamentos apenas “de fachada” para evitar desgastes sociais ou por temerem a incompreensão dos filhos diante de uma separação. “Elas estão casadas apenas para dividir uma casa, ter um sobrenome, compartilhar as dívidas ou porque temem serem afastadas dos filhos”, acrescenta meu amigo com base nos depoimentos colhidos em bares, idas aos shoppings, viagens e idas ao supermercado.
A falta de romantismo é uma carência que assola um grande contingente de mulheres que não escondem esta desilusão. Jovens ou balzaquianas, elas sabem que cortesia é comportamento em falta no mercado do amor. Por isso, elas o valorizam tanto!
Numa época de pressa permanente, consumismo desenfreado e de sexo fácil – na tevê, na rua, na internet – almejar uma relação sólida e duradoura já nem é pré-requisito. “Ser considerada, respeitada e alvo de agrados já é o suficiente”, lembra meu amigo.
Parece que os homens ainda não despertaram para a necessidade de tratar as mulheres com respeito e educação
A partir desta constatação ele tornou-se um expert na arte de agradar a mulherada. Coleciona pequenos frascos de perfume no porta-luvas do carro, mimo valioso para um agrado de emergência. Também envia flores, redige e-mails açucarados e abusa da criatividade romântica. São ingredientes infalíveis na arte de seduzir. Jura que não emprega estas armas para fazer suas presas sofrerem ou alimentarem infundadas ilusões “Deixo claro, no primeiro encontro, que quero curtir a vida sem compromissos ou obrigações. Do contrário, seria a continuidade dos problemas que estas mulheres enfrentam ou enfrentaram e que tanta amargura gerou”, assegura.
A falta de respeito, educação e do mínimo de sensibilidade parece marcar as relações interpessoais deste século conflituoso. Vivemos numa sociedade em que as comunicações nunca foram tão fáceis, intensas e efêmeras. Usufruímos de um manancial infindável de ferramentas e plataformas informatizadas. Podemos ficar conectados infinitamente, até durante o sono! Mas a comunicação, como relação clara e duradoura entre as pessoas, parece cada dia mais distante. Mesmo entre simples amigos.
Os relacionamentos parecem produtos descartáveis. A variedade das relações é fundamental para o enriquecimento das pessoas, mas infelizmente a maioria dos afetos são abreviados justamente pela falta de comprometimento, aquele onde o casal se preocupa verdadeiramente com o bem-estar “do outro”.
Os desencontros, fenômeno tão comum nesta nossa rotina enlouquecida, raramente são incapazes de motivar conversas profundas na busca dos verdadeiros motivos das desavenças. Parece mais fácil desistir e usar esta energia na busca frenética do próximo parceiro.