Estive por alguns dias em São Paulo, na capital. Por mais que se viaje a São Paulo, o impacto da cidade é sempre forte. Há um ritmo ali que justifica bem a sentença: São Paulo é a locomotiva que puxa o Brasil.
Sim, claro, como todas as cidades do terceiro mundo, também tem favelas escancaradas, tem sujeira na rua e, ao caminhar, é bom não enfiar o pé num buraco da calçada. Mas São Paulo tem um sistema de metrô que por si só compensa muitas agruras. Dizem que é o metrô mais saturado do mundo. Pode ser. Andei ali em horas de pico e era um mar de gente. Fica-se dispensado de fazer esforço para andar nas plataformas: é só se soltar que a multidão leva. Também! O metrô de São Paulo transporta quatro milhões de passageiros por dia. Quatro milhões por dia! Sabe-se lá o que é isso?
A cidade me fez pensar nos versos de Oswald de Andrade, datados de inícios do século XX:
Não permita Deus que eu morra sem que eu volte pra São Paulo,
Sem que eu veja a Rua Augusta e o progresso de São Paulo.
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Um dos meus compromissos em São Paulo era renovar o Visto para viajar aos Estados Unidos. Há uma boa lista de formalidades a vencer para conseguir o carimbo e eu pensei que este seria o principal obstáculo. Não estava preparada para o cenário que encontrei.
Encontrei milhares, mas milhares mesmo de brasileiros na fila. Disseram que todo dia é assim. Parece quase impossível que tanta gente queira viajar aos Estados Unidos. No Consulado, tudo está muito bem organizado, funcionários orientam a fila e ninguém entra lá sem ter agendado a visita. Mesmo assim, é um furor. Gente demais. Hordas de gente. Fiquei sabendo por experiência própria que é normal passar de 4 a 5 horas dentro dos portões do Consulado. Já imaginou?
No dia que estive lá fazia um sol de rachar, depois baixou uma chuvarada impiedosa. Mas quem se atreveria a abandonar a fila com chuva ou com sol? A mudança de tempo acabou compensando. Facilitou a conversa entre desconhecidos, contribuindo para espantar o tédio. Porque o difícil mesmo era achar jeito de passar as horas de espera.
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Não quero me prosear, mas acabei encontrando um jeito. Ainda por cima, útil. Comecei a reunir clips jogados por ali. Acontece que o pessoal junta seus documentos com clips. Na medida em que vão entregando os papéis, dispensam os clips. E quem se micharia de guardar de volta no bolso uns míseros clips?
Se não fosse difícil percorrer a fila agachada, poderia ter voltado pra casa com clips suficientes para abrir uma loja…