Falar e conversar são coisas diferentes. Vê só. Estávamos, um grupo de amigos, conversando. Um dizia uma coisa, outro dizia outra, vinham algumas risadas, aí alguém continuava para lembrar de algo mais, dar um palpite; voz diferente trazia outra opinião e assim por diante. De vez em quando o papo ficava interrompido, fazendo hora para o grupo engatar um pensamento novo. Daí, o bailado recomeçava. Falava um enquanto os outros ouviam. Um segundo emendava ideia desparelha. Todos escutavam e, depois, quem lembrava de alguma coisa juntava na conversa. De modo que o fio do pensamento unia o grupo, um passando para o outro a invisível bola, que a cada passe ia ficando mais graúda e interessante.
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Bom, de repente alguém mais se aproximou. Escutou um pouco para saber do que tratava a roda. Então apossou-se da palavra. Meteu a goela na conversa, demonstrou por A mais B que sabia das coisas. E não deu brecha para ninguém mais dizer um pio. Puxava o ar ligeiro, evitando que alguém aproveitasse a pausa para desbancá-lo. Resultado: dentro de alguns minutos a roda começou a se desfazer. Primeiro um, depois outro e outro mais. Dali a pouco só restava o sabidão ainda discursando nas orelhas do infeliz que ficara com vergonha de ir também embora.
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O chato nem se deu conta do desastre. Um falador em roda de conversa é um balde de água fria no cangote.
Acontece que falar é fácil, arte mesmo é conversar.
Conversação pede equilíbrio e senso de direito. Se alguém costuma ver todo mundo ficar quieto para ouvi-lo, pode estar certo de que o grupo escuta (se é que escuta) só na obrigação. Todo mundo gosta de botar sua colher no papo, aliás, papo é um tecido armado assim a muitas mãos. Pensar que os outros estão ali simplesmente para servir de cenário de discurso é um belo engano.
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E por falar em falar, estou com medo de que essa CPI que agora está nas manchetes dos jornais acabe apenas como máquina falante.
Assim: os caras falam, falam, falam. É um falatório e tanto. Os lídimos representantes do povo brasileiro deitam falação pela tribuna. Um é mais falante do que o outro.
– E o resultado?
Tomara que eu me engane, mas o palpite é que tudo acabe tri falado, que, inclusive, muita gente fique mal falada. E só.