Todos os anos nesta época uma grande dúvida invade a minha cabeça. Me refiro às campanhas do agasalho que proliferam pelo Rio Grande afora. Escolas, entidade oficiais, ONGs, Igrejas, clubes de futebol, concessionárias de pedágio, todos, enfim, se dão conta das consequências do flagelo do frio junto à população carente.
Há cinco anos, quando trabalhava na Presidência da Assembleia Legislativa, trabalhei ativamente na realização de uma iniciativa do gênero. Confesso que fiquei constrangido com alguns comentários que ouvi. “É claro que as roupas bonitas estes caras vão pegar pra eles, né?”, diziam alguns. “Como vou saber se tudo isso vai para os necessitados de verdade e não será desviado ou vendido, heim?”, indagam outros.
Compreendo perfeitamente a reação das pessoas. Recentemente reportagem do Jornal Nacional mostrou que 5 toneladas de calçados jaziam abandonados num depósito na região serrana do Rio de Janeiro, assolado no ano passado por deslizamentos. Denúncias de desvios e mau uso proliferam na imprensa e eu mesmo tenho sérias dúvidas.
Todos possuem calçados, roupas e agasalhos passíveis de doação. Há alguns anos adotei a prática de entregar diretamente minhas doações à entidades e pessoas necessitadas. Não é fácil. Requer cuidado, dedicação e uma pesquisa rápida. Atualmente uma diarista que trabalha lá em casa também é voluntária num asilo de Guaíba. Jamais fui ao local, mas confio na integridade da dona Márcia, trabalhadora dedicada, caprichosa e enérgica que, à tarde, é funcionária de uma escola.
Durmo com a consciência tranquila ao ver de perto que os beneficiados receberam diretamente as doações, embora isso não seja garantia de êxito das minhas melhores intenções em ajudar a quem necessita. Lamentavelmente as reiteradas denúncias de irregularidades comprometem o esforço das entidades idôneas que batalham o ano inteiro para ajudar as pessoas carentes. E não são poucos aqueles que dedicam tempo e recursos próprios para ajudar.
As entidades idôneas lutam contra a desconfiança resultante de desvios e irregularidades frequentes
Aqui mesmo em nossa cidade um grupo de abnegados homens e mulheres mantém de pé a Associação dos Menores de Arroio do Meio, a AMAM, apesar dos percalços, dificuldades, má intenção de alguns e a desconfiança de muitos. Gente como a querida amiga Leda Poletto, mulher de garra e fibra que ajuda sem olhar a quem que orgulha esta terra e com certeza já está providenciando um inverno menos rigoroso para a gurizada necessitada.
O mais incrível deste movimento espontâneo de autoajuda da população é que muitos líderes advêm de regiões pobres que, solidários com aqueles que mais necessitam, arregaçam as mangas para ir à luta em busca de auxílio. Esta característica do povo brasileiro chama a atenção inclusive no Exterior, onde instituições tradicionais patrocinam projetos beneficentes. Talvez se mais pessoas afortunadas tomassem à frente de campanhas semelhantes as agruras do frio que se avizinha seriam minimizadas.
Enquanto isso não acontece, resta às instituições honestas lutar contra o descrédito para sensibilizar a opinião pública sobre a necessidade em ajudar nesta peregrinação sem fim. Não é uma tarefa fácil, admito. Mas a publicidade e a ampla divulgação da entrega dos donativos ajuda no fortalecimento do conceito de retidão ética.
Enquanto o rigor do inverno está por vir decidi que amanhã, em pleno sábado, farei o processo de separação de roupas e agasalhos para o inverno 2012. Só falta escolher os destinatários.
Pense nisso e faça o mesmo! Tem muita gente precisando. E certamente tem muita coisa em seu armário que serve apenas para juntar poeira…