A fila no caixa no supermercado é o espaço ideal para aferir o ibope dos principais temas do momento. Críticas à malvada Carminha e ao vilão boa-pinta Max, ambos da novela da Globo – juntamente com o “careca do mal”, senador Demóstenes Torres e o maquiavélico Carlinhos Cachoeira – dividem a fúria das brasileiras simultaneamente à inveja das curvas da Juliana Paez e seu sotaque pouco convincente em Gabriela. Tudo é assunto nestes espaços de massiva presença de público.
Sábado, porém, um tema em especial despertou meu interesse. Eram duas amigas com quarenta e poucos anos que comentavam detalhes sobre a crise nos relacionamentos afetivos. Uma delas, loira com cerca de 1m70cm – que vim a saber depois tratar-se de uma médica – contava estarrecida sobre a naturalidade com que várias pacientes pediam conselhos sentimentais. “O pior é que elas contam detalhes íntimos, criticam defeitos dos companheiros, se autocriticam e pedem sugestões para aquecer a relação na cama!”, detalhou a loira.
A amiga, tão chocada quanto eu, depois que se refez do choque, desandou a fazer perguntas. A médica segredou que estas clientes careciam de carinho, atenção e de se sentirem alvo de pequenos gestos. Como um convite para um jantar a dois num lugar bacana, de receber flores em ocasiões ocasionais (e não em datas especiais), de ter a cadeira ajeitada ao sentar no restaurante ou também de ser destinatária de um torpedo apimentado via celular no meio do expediente. Ou simplesmente receber um carinho.
As mulheres esperam carinho e atenção, mas os homens parecem ignorar as carências femininas
Como aos sábados as filas nos supermercados são infindáveis, o papo das duas mulheres evoluiu. Eu, postado ao acaso atrás da dupla, tentei não ouvir, mas confesso que era impossível, tamanho entusiasmo das duas. Ok, prezadas leitoras… vocês têm razão quando dizem que nós, homens, também somos fofoqueiros. Mas não esqueçam do conceito que costumo repetir: “Jornalista é um fofoqueiro diplomado e remunerado”. Logo, o cotidiano é o melhor lugar para exercer o ofício e garimpar temas para crônicas.
“Os homens estão cada vez mais insensíveis. E justamente numa época em que há milhares de estudos, artigos, debates e publicações que tratam das carências e necessidades femininas”, explodiu a indignada doutora. “O pior é que fico numa encruzilhada. Fico tentada a emitir opiniões, dar palpites e corresponder à expectativa das pacientes, mas geralmente prefiro calar”, confessou. Pouco depois lamentou também que as consultas posteriores são carregadas de novas nuances e de confissões repletas de desejos reprimidos de vingança e busca de compensações extraconjugais.
Infelizmente não pude acompanhar o desfecho da peroração das jovens mulheres, mas ao conversar com amigos próximos constato que a falta de atenção efetiva para com a companheira é realmente um fenômeno da sociedade moderna. Depois de finalmente descobrir que o casamento está em crise, a maioria dos homens tenta compensar a ausência comprando um lingerie ousada, um carro novo para a companheira ou viajando ao Exterior numa segunda lua-de-mel. Na maioria dos casos, no entanto, já é tarde. A mulher, cansada, revoltada e indignada, já encontrou fora de casa um consolo que compense a frustração doméstica…
De volta para o passado
Na última sexta-feira fiz um voo rasante por Arroio do Meio. Numa rápida passagem pelo supermercado do STR tive a sorte e o prazer de encontrar velhos amigos que fazem parte da memória afetiva que mantenho pela nossa cidade. Lúcio Bersch, Rogério Rother e Dinarte Hoffmann foram personagem da minha adolescência, principalmente de um período em que o esporte praticado no Colégio São Miguel era intenso e elemento de integração. Também afloraram lembranças dos tempos em que residi na rua Dr. João Carlos Machado, bem na entrada da cidade, onde se localizava a Madeira Arroio do Meio. Também encontrei Noeli Neumann, a quem agradeço a honra da leitura desta coluna e a gentileza dos imerecidos elogios.
É sempre bom voltar à terra natal e ser acarinhado!