Como já contei neste espaço meu pai passou a vida repetindo:
– Casamento é arte de se fazer de surdo.
Aos 52 anos de idade e com 25 anos de casado chego à conclusão que o velho Giba estava coberto de razão.
Nos primeiros anos de vida em comum, perde-se horas em discussões estéreis, num esforço permanente em demonstrar “razão em tudo”. Além de desperdiçar bons momentos, dificilmente chega-se a um acordo. Quando isso ocorre pode faltar energia para a parte mais prazerosa da vida a dois: a reconciliação, momento muy caliente de qualquer relacionamento.
Tem gente que compara o casamento à compra de um CD justificando: por causa de duas ou três músicas legais somos obrigados a comprar o “pacote completo”, suportar coisas pouco agradáveis. Não sou tão crítico neste quesito porque há um conjunto bastante grande de passagens felizes.
Os homens são acusados de insistir com coisas que irritam as mulheres. Fazer xixi sem levantar a tampa do vaso, deixar a toalha molhada sobre a cama, espalhar roupas e calçados por toda a casa ou desfilar de pijama durante o final de semana – principalmente no inverno – são acusações muitas vezes procedentes, junto com a falta de banho. Como a minoria masculina se acentua diariamente os nossos argumentos estão fadados ao fracasso.
Nós não temos chance de lembrar que convivemos com escovas repletas de tufos de cabelos estacionadas na pia do banheiro ao lado de escovas de dente e fio dental. Cabelos estes, aliás, que forram o piso do boxe e o ralo na hora do banho. Ah… sem falar nas caríssimas joias – dadas por nós! – encontradas sobre a cabeceira da cama, sob travesseiros, em cima do micro-ondas ou na saboneteira.
Lá em casa o chato sou eu, cujo apelido é Mister TOC devido às manias e chatices
No quesito organização, meu casamento é diferente da maioria. Lá em casa sou o chato de plantão, um obsessivo para acomodar as roupas, calçados e objetos em geral. Costumo dizer aos meus filhos que, se não houver energia elétrica pela manhã, ao acordar – o que ocorre pontualmente às 6h – seria capaz de me vestir para trabalhar sem necessidade de claridade.
Esta obsessão me valeu o apelido de Mister TOC – sigla de Transtorno Obsessivo-Compulsivo, doença que tem como expoente maior o rei Roberto Carlos e a infindável relação de manias e superstições. Concordo que sou um chato de galochas (alguém sabe o que é?), mas Deus sabe que luto com todas as minhas forças para relaxar, mas confesso que tenho obtido pouco êxito.
Minha mulher, ao contrário da maioria das esposas, não pega no meu pé. Adora cozinhar, coisa que faz todas as noites É muito desligada, não cobra organização, disciplina e outras cossitas do gênero. Esta diferença de temperamento, no entanto, não afasta os conflitos. Dois jornalistas sempre dotados de argumentos são prato cheio para debates infindáveis. Aqui confesso que geralmente dona Cármen dá um se faz de surda, dá sorrisinho maroto e sai de mansinho. Eu fico falando sozinho, demoro para entender que ela queria, na verdade, era acabar o bate-boca e preparar um prato saboroso para nós dois.