O número de acidentes nas estradas vem crescendo de forma assustadora. Segundo estatística, em 2011 ocorreram na média 5,5 óbitos diários em função do trânsito e até aqui, em 2012, a média já subiu para 7,5 óbitos diários. O último fim de semana, quando se comemorava o Dia dos Pais, foi o mais violento de todo o ano de 2012, superando até as marcas trágicas do Carnaval.
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Quais seriam as causas dessa calamidade?
– Em geral os acidentes são atribuídos à imperícia e ao excesso de velocidade. Na base estaria também o consumo de drogas, que potencializa a imperícia e embala a velocidade.
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Podemos olhar o fato de mais um lado: o número de carros novos que entram em circulação por ano é elevadíssimo. Só na primeira metade de 2012, mais de 2 milhões de veículos novos começaram a rodar nas estradas brasileiras. A redução do IPI que o governo concede por um prazo determinado, ameaça que vai suspender – e depois prolonga – tem parcela significativa neste resultado. Quem mal e mal pode corre para aproveitar a oferta e nem se importa ao ver, depois, que não era preciso ter corrido tanto, pois o desconto continua…
O governo tem procurado favorecer a indústria automobilística e não por que exista uma marca nacional que se beneficie – todas as 24 montadoras que operam no país são multinacionais. Aliás, o Brasil é o único membro do BRIC que não possui uma marca própria de veículos. A justificativa do governo aponta a cadeia de empregos pela qual a indústria é diretamente responsável.
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Penso que convém juntar outro ingrediente à tragédia do trânsito brasileiro. Nossas estradas são insuficientes para tantos carros. Quem não vê isto? Milhões de novos veículos passam a rodar por ano e não há lugar para todos. Estamos agindo parecido com uma criança que tenta socar 17 bichos numa caixa de sapatos. Simplesmente não cabe. O que faz a criança no caso? Ela esmaga, empurra, aperta e, por fim, dá um safanão, derrubando tudo.
É mais ou menos isto que fazemos nas estradas.
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Sim, a economia é ativada pela produção automobilística. Mas a que preço? O país deveria crescer de um modo mais adulto. Deveria levar em conta uma proporção básica: se mais carros entram em circulação, eles precisam de mais espaço para circular. Não há dinheiro para construir estradas? Mas então como é que se incentiva o aumento da frota nacional?