Desde a divulgação dos números do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) por parte do Ministério da Educação (MEC) tento me colocar no lugar dos professores. A maioria se dedica com afinco e não raramente acumula mais de um emprego para fazer frente às despesas mensais. Apesar da extrema dedicação os dados tornados públicos foram do tipo arrasa-quarteirão, numa perigosa generalização num quadro de total desalento.
A educação, bem como a política prisional e outras atividades sob responsabilidade do Pode Executivo, são abruptamente interrompidas a cada quatro anos. Mudam-se os responsáveis pelos projetos e programas, instala-se um novo conjunto de diretrizes e quando finalmente o trabalho ganha normalidade é hora de uma nova eleição.
Com o ar superior que nos caracteriza diante do resto do país – e com base no falso slogan de “Estado mais politizado do Brasil” – a cada quatro anos mudamos tudo, começamos da estaca zero e apostamos que, desta vez, uma nova proposta veio para curar todas as mazelas.
A educação, assim como os presídios, envergonha cada vez com maior frequência os gaúchos. Somos manchetes reiteradas na abertura do Jornal Nacional pelas péssimas condições das nossas cadeias ou pela falta de perspectivas para os apenados após o cumprimento da pena ou ainda pelas inúmeras promessas jamais cumpridas de obras de melhoria.
É hora de desarmar os espíritos, sob pena de isolar o Estado do Brasil e da América Latina
Na educação, posso imaginar a vergonha que aposentados professores sentem ao acompanhar o noticiário. Eles, que são da época em que o Rio Grande era o “celeiro do Brasil” e quando nossos índices de ensino faziam corar os demais estados. Na área dos transportes tínhamos uma malha viária extensa, verdadeiro exemplo de conversação e investimentos fartos, onde o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) empilhava recordes de produtividade ao invés de falcatruas e irregularidades.
Afinal, o que aconteceu com o Rio Grande do Sul? Talvez uma das principais razões resida na vocação ao confronto. É impossível encontrar um projeto sequer capaz de nos unir de forma unânime. Não conseguimos nos desvencilhar surrado vício de valorizar mais a sigla partidária que os méritos das diversas iniciativas. A “grenalização” está presente em todos os segmentos, inclusive no próprio esporte, onde em breve teremos a disputa do maior clássico do futebol gaúcho com torcida única. Tamanha é a nossa falta de civilidade.
É hora de desarmar os ânimos, admitir nossos erros, lamber as feridas e assumir o compromisso de tolerância e paciência para reinventar nosso Estado. Chimangos e maragatos foram heróis que forjaram uma época da história rio-grandense, mas as lições dali tiradas deveriam servir de tema de casa diário para não termos uma recaída.
A prostração dos gaúchos diante do fracasso preconizado pelo Ideb merece uma reflexão profunda, madura e consequente porque é um dos indícios de que muitas coisas andam mal na Província de São Pedro. Brigar sempre e por tudo é o melhor caminho para transformar o Estado numa trincheira isolada do resto do Brasil e da América Latina.