Os avanços da medicina no campo da estética são impressionantes. Alguns cirurgiões são verdadeiros escultores principalmente quando os procedimentos envolvem pacientes vítimas de acidentes, queimaduras e outras ocorrências. Domingo, no Fantástico, uma reportagem mostrou algo impensável há alguns anos: operações para a reconstrução da face.
Estes procedimentos envolvem pessoas mutiladas por acidentes, inclusive casos de violentos ataques de cães ferozes. Consequências antigamente irreversíveis são minimizadas – e até totalmente sanadas – a partir de inúmeras cirurgias mediante o emprego de materiais de última geração e da doação de órgão por parte de familiares e amigos.
O desenvolvimento de novos procedimentos que empregam tecnologia de ponta devolve às vítimas uma vida praticamente normal depois do trauma e do preconceito normal numa sociedade onde a estética dita as normas de convivência social.
Infelizmente os mesmos avanços viabilizados pela medicina muitas vezes provocam resultados exatamente contrários que podem ser vistos em todos os lugares. São pessoas que não teriam necessidade de submeter-se aos cuidados, dores e restrições de uma longa recuperação pós-cirúrgica, mas que por absoluta vaidade submetem-se aos bisturis em busca da eterna juventude.
Muitas vezes os resultados criam verdadeiros zumbis, pessoas desprovidas de expressão facial e com cara de adolescente, apesar de ter 60 ou 70 anos. Ou seja, um quadro ridículo. A ditadura da estética provoca efeitos neurológicos colaterais em muita gente. Um contingente cada vez maior de homens e mulheres que evitam sorrir porque a cada risada uma perna se ergue de tão “repuxadas” que estão.
As mãos revelam a verdadeira idade, apesar das cirurgias plásticas e de outros procedimentos
Cuidar do visual, praticar exercícios físicos e fazer alguns retoques aqui ou ali é até aconselhável, mas não se pode perder de vista o senso de ridículo. É fundamental também possuir um amigou (ou amiga) que olhe em nossos olhos e diga com todas as letras: “Não faça isso! Vai ficar ridículo, totalmente fora do contexto”. Lamentavelmente isso raramente acontece porque os “escravos do visual” afastam aqueles que têm o péssimo hábito da sinceridade.
É comum encontrar mulheres e homens com rosto totalmente liso como bumbum de bebê e o corpo sarado. Mas basta mostrarem as mãos para que a imagem de forever young desabe. Tudo é uma questão da chamada DNA: Data de Nascimento Antiga, como reza a piada. Por isso, como em tudo na vida, equilíbrio é fundamental para não virar alvo de chacotas.
A “ditadura do visual” se mostrou novamente nas eleições municipais recém-findas. Havia cartazes com fotos de candidatos quase irreconhecíveis pelo excessivo uso do photoshop, programa para manipular imagens. Ao vislumbrar uma destas imagens ouvi de uma senhora a seguinte manifestação:
– Por que os candidatos têm vergonha dos cabelos grisalhos e rugas? Pra mim, isso dá um ar de credibilidade, respeitabilidade, mas todos querem voltar a ser guris! – reclamou.
Achei graça na hora, mas agora reconheço que a eleitora está coberta de razão. Rugas nem sempre são sinais inequívocos de velhice porque muitas vezes manifestam experiência necessária para enfrentar os desafios da vida.