Na semana passada festejou-se o Dia da Criança. Houve comemorações para todos os gostos. Jornais e programas de TV mostraram os pitocos se divertindo, aquelas carinhas de anjo, os olhinhos brilhantes. Não há quem não se comova com um sorriso infantil.
Olhando aquelas imagens me voltaram à cabeça duas histórias que andei lendo. Uma delas, intitulada “O filho eterno”, de Cristovão Tezza. A outra, “A queda”, de Diogo Mainardi. Em ambos os casos, são os pais que falam, partilhando a experiência de ter um filho diferente.
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Em “O filho eterno”, o pai narra a expectativa pelo nascimento do filho, e em seguida o impacto devastador ao descobrir que o menino é portador de síndrome de Down. Com uma sinceridade comovente, Cristovão Tezza evoca a dificuldade para aceitar os fatos, a angústia entre o amor e a decepção. Pouco a pouco, porém, vai despontando a serenidade que brota da aceitação. O relato chega até os 25 anos do filho, que será “eterno”, pelo fato de jamais poder levar uma vida independente.
Entre 2007 – ano de sua publicação – até 2009, “O filho eterno” ganhou todos prêmios literários brasileiros. Um livro honesto como poucos.
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Diogo Mainardi, o escritor de “A queda”, é um jornalista bem conhecido. Falando de Veneza, na Itália, onde mora atualmente, ele participa do programa de TV “Manhattan Connection” e por muitos anos foi articulista da revista Veja.
Diogo Mainardi igualmente relata a história do seu filho, o Tito. Fruto de comprovada displicência na hora do parto, o menino sofreu paralisia cerebral. Diante do risco de perder o filho, Mainardi se aferra à vida e sua preocupação passa a ser ajudar o menino a se desenvolver, depois, a andar.
Do esforço para ajudar Tito a caminhar, vem o título do livro: “A queda”. Diogo Mainardi espanta e emociona ao revelar o quanto aprendeu com seu filho, e, generosamente, nos dá a chance de fazer o mesmo, mostrando-nos que “saber cair tem muito mais valor do que saber caminhar”.
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Seja por causa do Dia da Criança, seja por conta dos livros citados, andei pensando muito no assunto. Parece que o mais sábio é aceitar as crianças como se aceitam as árvores: com gratidão. Cada uma é perfeita a seu modo.
Nós não queremos que as árvores sejam diferentes. Nós as amamos como elas são.