Os anos que passamos lustrando os bancos escolares consolidam amizades que infelizmente se esvaem ao longo do tempo. Inesquecíveis parceiros de façanhas infanto-juvenis nos pareciam eternos, mas a dinâmica da vida altera radicalmente os rumos e forja trajetórias diferentes daquelas inicialmente propostas.
Na sala de aula havia sempre três zonas bem diferenciadas. Na parte da frente reuniam-se os CDFs, cujo significado da sigla não seria educado declinar. Eram chamados de “crentes”, os primeiros a levantar a mão a qualquer consulta do mestre, também os preferidos para “bater o apagador”, função que distinguia o escolhido do resto da galera. Os felizardos podiam dar uma saída rápida da sala, ver o movimento no corredor e as condições do tempo.
Na parte do meio da sala, ficavam os que estudavam, “para o gasto”, mas gostavam mesmo de botar as fofocas em dia. Na hora “H”, porém, ali na metade do segundo semestre, se aproximavam da ala da frente, temendo não passar de ano e pedindo “cola”. Os do meio tinham bom trânsito com a ala dianteira e com os “proscritos do fundão”, onde transitavam as figuras mais estranhas, bizarras antissociais do grupo.
Lá viviam seres cuja voz era audível somente na hora de dizer “presente”. Alguns cochilavam, rabiscavam desenhos obscenos ou usavam de um atilho (na época conhecido como borrachinha de dinheiro) como um poderoso estilingue (ou funda). As turmas do meio e da frente eram bombardeadas com disparos certeiros, o que rendia brigas resolvidas no recreio ou na saída das aulas.
A vida nos distancia de inesquecíveis colegas e amigos, mas eles estarão para sempre na memória
Muitos leitores certamente já mentalizaram seus personagens emblemáticos. Em termos de sacanagens tive colegas imbatíveis. Clayton Schuh e Júlio “Lynho” Schnorr mantinham a tensão permanentemente porque era preciso “estar ligado” todo o tempo! Qualquer descuido era fatal.
Havia também os gênios em várias atividades. Como Roberto “Betão” Theves, que não foi meu colega, mas era um grande amigo de futebol que pilotava um vistoso Galaxie do pai e que desenhava como poucos.
Nas quadras esportivas Jairo Schuh era imbatível! Quando assisto futebol na tevê recordo deste craque que poderia ter jogado em qualquer grande clube. Extremamente tímido, Jairo era craque em futebol (de campo e salão), vôlei, basquete, handebol e tantas outras modalidades. Até hoje é meu ídolo, tamanha versatilidade.
Também se destacavam os irmãos Júnior e Carlinhos “Calota” Fleck e Elio e Enio Meneghini, bem como Carlos Bergamaschi, Sérgio “Tedila” Kunz, e Lúcio Bersch, velho amigo e jogador habilidoso.
Sem dúvida omiti involuntariamente muitos colegas, mas fica aqui a homenagem àquelas figuras que fizeram parte da vida de todos nós. Ao longo do tempo perdemos contato, mas eles estarão para sempre em nossos corações e mentes.