Com alguma frequência, digamos duas vezes por ano, gosto de ter em minhas crônicas o poeta latino Décimus Junius Juvenalis, nascido em Aquinos – solo romano – 60 anos depois de Cristo e autor de famosas Sátiras, Juvenal costumava dizer que os latinos – já naquela época – precisavam de duas motivações para serem felizes: Panem et Circenses (pão e espetáculos de circo).
Suas crônicas eram consideradas verdadeiras agressões aos “romanos da decadência”, segundo ele, pois tudo o que pediam no Foro era trigo – para fazer pão – e espetáculos de circo, para os dias de descanso.
Na verdade, quem trabalha, mesmo hoje, não consegue ficar longe de uma boa alimentação, da qual o pão é a grande referência. Vale o mesmo, também, no caso de uma atração esportiva (circense), que ainda não é unanimidade no planeta, mas da qual não se consegue mais esconder a primazia despertada entre os cerca de 200 países que integram a ONU: o futebol.
É interessante que os leitores saibam que bem antes de Cristo, espécies de atrações tidas como de circo mereciam toda a atenção da sociedade da época.
Há mais de 30 séculos, em um jogo de bola, procurava-se saudar o passeio diário do sol e da lua, céu afora, tratando-se de afastar os maus espíritos, chutando – com os pés – uma bexiga de boi inflada, o que representaria a figura do mal. Registros encontrados entre egípcios e babilônios guardaram essa prática para mostrar ao futuro. Mais recentemente, ficou-se sabendo tinha origem ainda mais remota: seria uma espécie de treinamento militar chinês.
Sei que os leitores não vão estranhar muito a fórmula de preparar-se a bola de então: simplesmente, cortava-se a cabeça dos guerreiros inimigos para chutá-las, de pé em pé até fazê-las passar entre uma espécie de goleira, não muito distante do que hoje ocorre. Um pouco mais tarde, as bolas passaram a ser de couro, bem diferentes do desenho que mostram na atualidade.
Já mais recente, Idade Média na Itália, registrou-se a existência de um jogo parecido com o futebol, disputado por 54 jogadores – 27 de cada lado – onde eram muito comuns socos, pontapés, golpes violentos e mesmo mortes durante as partidas (eu não disse que era parecido com o futebol )?
Da Itália o futebol teria viajado para a Inglaterra, tendo lá chegado próximo ao final do século XIX. Foi quando se deu o encontro com o brasileiro Charles Miller, paulista do Brás, que ao retornar para casa em 1894 – estudava em Londres – trouxe na bagagem a 1ª bola de futebol e um conjunto de regras que o Brasil desconhecia, logo publicadas com a agilidade de uma época que andava a catar novas ideias para a prática de lazer e exercícios físicos.
Muito embora São Paulo tenha sido o estado introdutor do futebol no Brasil, o 1º clube brasileiro fundado para desenvolver especificamente esta modalidade foi o Esporte Clube Rio Grande, da cidade de mesmo nome, conhecido, por isso, como “Vovô” . A data de sua fundação (19 de julho de 1900) é saudada como O Dia do Futebol no Brasil. Para conhecimento dos leitores, o segundo Clube brasileiro fundado especificamente para jogar futebol foi a Ponte Preta de São Paulo ( 11 agosto de 1900).
Pois o futebol, que deu tantas voltas para tornar – se o melhor dos espetáculos “circences” começou a regredir de forma preocupante, muito embora seu crescimento, a cada ano, em todo o planeta. Com frequência cada vez maior, tem se transformado em “Centro de conchavos e fatos inaceitáveis”, como foi o caso da decisão pró-Corinthians, há pouco tempo, com a anulação de 11 jogos que foram jogados novamente, episódio que acabou dando ao time paulista o título de Campeão Brasileiro.
Na atualidade, a grande insensatez cometida contra a seriedade do nosso futebol, foi criar-se todo um julgamento, este sim, de circo, no qual o beneficiado com um gol feito com a mão deve demonstrar que o gol foi válido, baseado especialmente na incompetência do juiz, que produziu um relatório sobre o jogo cujo final foi simplesmente “não aconteceu nada de mais ao longo da partida”.
Moral da história: o Palmeiras vai ter que mostrar que o gol foi mesmo feito com a mão e depois duelar verbalmente com o juiz do jogo e suas provas para convencer a todos que o árbitro foi informado do gol ilegal por um de seus auxiliares.
Tentar validar um teórico empate na partida provando que o gol foi feito com a mão?!?!
Talvez só a época em que a bola era a cabeça dos adversários tenha sido pior do que a nossa. O jogador faltoso provar que o gol feito com a mão, valeu. E ele nem ganhou cartão pela falta cometida.
Pode?