O final do ano chega a galope, mas até o tilintar das taças entre 31 de dezembro e 1° de janeiro muita coisa ainda vai acontecer. Tenho ao menos duas formaturas para comparecer, além das inúmeras confraternizações. A maioria de caráter obrigatório porque envolvem “convites” de superiores hierárquicos do trabalho.
A primeira reação é de rebeldia diante da necessidade de cumprir uma agenda social compulsória, onde não há escolha. Com saudade da infância recordei dos compromissos que se repetiam a cada fim de ano. Quando frequentava a Escola Luterana São Paulo, no finado Curso Primário, sob a batuta da queridíssima professora Dorothea Suhre, os ensaios para o show musical da noite de Natal eram diários. À medida que a ”noite feliz” se aproximava os treinamentos ocorriam pela manhã e à tarde.
Na noite de 24 de dezembro chegávamos cedo à escola, muito nervosos e agitados. Roupas impecáveis, cabelo lambido e até perfume a dona Gerti borrifava em mim. Em fila indiana íamos até a igreja para sentar nos primeiros bancos para ouvir o pastor Victor Lehenbauer. Apesar do nervosismo, ficávamos “muito exibidos” como principais estrelas do espetáculo. Cantar Noite Feliz e O Tannenbaum a plenos pulmões, a ponto de ruborizar as bochechas, era o máximo!
Depois ganhávamos uma cesta, com bombons, doce de mel (em formato de Papai Noel), balas, chocolates. Depois dos cumprimentos da família na porta da igreja, íamos para casa cumprir a derradeira etapa da programação natalina. Mais cantoria ao som do violão da minha irmã e do meu acordeão (gaita). Só depois chegava o momento supremo: a distribuição dos presentes para brilhar os olhos e bater mais forte o coração.
Os pacotes “macios” nos desagradavam. Afinal, a gente curtia de verdade eram os brinquedos…
No dia seguinte, antes de usufruir dos presentes, cumpríamos uma verdadeira maratona para visitar nossos avós, em Lajeado, e um casal de padrinhos. Depois de muito bolo, refrigerante e papo furado, finalmente éramos apresentados aos cobiçados pacotes.
Lembro que costumava apalpar os presentes. Se fossem macios significava que era alguma peça de roupa. Somente o olhar fulminante do seu Gilberto, meu pai, me fazia abrir a lembrança e sorrir amarelo, fingindo felicidade. Cá entre nós… a gente gostava meeeesmo era de brinquedos!
De volta para casa encontrávamos os amigos e vizinhos para uma amostra do que foi o Natal de cada um e brincar na frente de casa, em grupo, até a noite chegar. Conciliar o sono era difícil, afinal, era muita emoção, muita expectativa finalmente transformada em realidade.
Pensando bem, foram anos felizes, embalados por músicas que até hoje tocam no supermercado, mas na companhia de amigos de infância, familiares que já se foram e na ilusão de que o Papai Noel dormia. Pronto para repetir as façanhas no próximo Natal!