Nesta altura a tentação é fazer uma lista de bondades – para entrar em vigor a partir do ano que vem.
O caso é que isso de adiar levanta suspeitas. Afinal, por que não começar imediatamente? Qual o impedimento para abolir, por exemplo, as frituras no jantar desta noite? Por que não se atirar nos exercícios já agora? Por que não começar logo a levantar meia hora mais cedo, como está anotado na lista?
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Eu também tenho uma lista, claro, e não divulgo o que foi que escrevi. Se vou descumprir a maior parte das metas (e vou), fico envergonhada de publicar o tamanho das minhas fraquezas…
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Parece melhor desviar do perigo e oferecer uma ideia para botar na lista de todos.
É uma coisinha de nada. Tem jeito de ensinamento, mas é uma frase meio cruel. Há alguma coisa de sádico debaixo do tom inocente com que é pronunciada.
A frase é: “Eu não disse?”
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Vê só. O cara está chateado pra mais de metro. Deu tudo errado e agora tem de quebrar a cabeça para achar a saída. O cara quis fazer do seu jeito, quis encurtar o caminho e deu no que deu. Era uma boa sacada e poderia ter sido um sucesso. Não foi um sucesso.
Sim, tinha recebido o aviso. A gente fizera questão de não economizar em conselhos. Previra o malogro e agora se sente com todo o direito de esfregar no nariz o “eu-não-disse?“
Melhor fechar a boca. Nunca mais pronunciar essa frase. Ela depõe contra nós. Afinal, a gente quer o quê ao dizê-la? Quer piorar o desastre? Quer fazer chorar de arrependimento? Quer esnobar quem já está derrubado?
Ou a gente quer proclamar a nossa incomparável sapiência?
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Resumo da ópera, em 2013, não derramar mais leite sobre o leite já derramado.