Cenas desta fase do ano:
Papais Noeis exaustos de tantos pedidos. Paisagens de neve debaixo do sol de verão. Crianças listando os brinquedos que querem ganhar de presente. Olhar preocupado sobre o extrato bancário magrinho. Casais namorando vitrines. Promessas de festas felizes com roupas, champanha, pacotes sem fim.
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É assim que se passa. Os dias colocados ao redor do Natal encorajam as sensações infantis. O Papai Noel está aí para receber a lista dos nossos pedidos. Se a lista for longa demais, o comércio dá uma mãozinha e o pagamento pode ser feito em parcelas, começando lá por abril.
As celebrações de Ano Novo andam no mesmo sentido. Que tudo se realize no ano que vai nascer – diz a canção mais famosa de 31 de dezembro. Muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender – cantamos todos em coro.
Ou seja, esta quadra do ano estimula o voo dos desejos. Parece que mesmo os sonhos guardados no cofre, mesmo os mais longínquos anseios vão acabar realidade. O Papai Noel vai trazer tudo o que falta.
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Faz bem curtir este período festivo. Não vejo nada de errado em sonhar os sonhos mais belos. É natural que a imaginação seja capaz de voar. “O homem é um ser desejante” – já disse um filósofo.
A questão é conseguir enxergar a distância entre o feijão e o sonho e aceitar que existe uma diferença brutal entre um lado e outro lado. Nem os donos do mundo podem ter tudo. Aqueles que têm uma montanha de coisas enxergam outra montanha atrás da primeira. Os nossos desejos são sempre tamanho GG.
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Eu acho preciosa esta chance de botar lado a lado o ideal e o possível. E de se render ao valor do possível.
Quero dizer o seguinte: podemos não ser convidados para um banquete real e nem por isso deixar de curtir o macarrão preparado na nossa cozinha. Podemos não ganhar de presente um colar de diamantes e nem por isso deixar de adorar a blusinha de malha que chega pra nós… O segredo é gostar do possível.