Acabo de assistir a um belo filme. Trata-se de produção chilena com o título “No” (Não, em português).
Coisa rara nos inícios de janeiro, quando todo mundo só quer diversão ao ar livre, a sala de cinema estava cheia. Não sobrava um só lugar. Uma sala de cinema cheia nesta altura do verão fala por si. “No” é um filme bacana mesmo – para ver e para pensar.
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“No” foca o plebiscito que encerrou a era Pinochet no Chile, no ano de 1988. Foi assim: após 15 anos no poder e pressionado pela comunidade internacional, Augusto Pinochet convoca um plebiscito para perguntar à população se deveria continuar por mais oito anos. (Pinochet estava certo de que o Sim venceria, caso contrário não teria se submetido ao teste.)
Inicia-se a campanha. A TV reserva um espaço diário de 15 minutos para o Sim e 15 minutos para o Não. Aí é que entra a figura do publicitário René Saavedra, no filme representado pelo excelente ator mexicano Gael Bernal. Saavedra assume a campanha do Não, travando primeiro uma briga com seus companheiros. Estes querem utilizar o espaço para denunciar as barbaridades cometidas pela ditadura de Pinochet. Saavedra pensa diferente. Ele trata a campanha como um produto a ser vendido, como se vende um refrigerante, por exemplo.
O pensamento de Saavedra é aceito. Escolhe-se o humor, a alegria como estratégia principal. Aí o espectador tem oportunidade de rir muito, acompanhando a propaganda. Resultado: o Não vence com 56% dos votos, dando fim à ditadura chilena.
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A decisão de René Saavedra é sintomática de uma época que estava começando: campanhas políticas passaram a ser tratadas como negócio. E os publicitários, a atuar como craques de meio de campo, articulando as jogadas, distribuindo a bola, fazendo lançamentos. Eles praticamente decidem a partida. No Brasil, também somos testemunhas desse processo, desde as primeiras campanhas de Lula.
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“No” concorre ao Oscar de melhor filme estrangeiro do ano de 2013. Vou estar torcendo por ele na noite de 24 de fevereiro próximo.