Repeti várias vezes neste espaço o equívoco que constitui comparar épocas tão diferentes quanto à nfância/adolescência
dos anos 60 – quando nasci – com o mundo atual. Todavia é saudável repor alguns conceitos que são perenes, imutáveis,
fundamentais para a estabilidade mínima da célula familiar.
Cinco anos depois, em janeiro curti férias com minha mulher e meus filhos, – um casal de 17 e 19 anos. Escolhi
um pequeno balneário, a Guarda do Embaú, tradicional reduto catarinense que reúne surfistas e argentinos.
Fomos à praia todos os dias para jogar conversa fora, trocar ideias, instalar discussões acaloradas, jogar vôlei e
constituir um refúgio para discutir a relação. Falamos da rotina, dos temores de pai e mãe diante de tantos perigos,
da nossa curiosidade sobre os planos da gurizada. Em troca ouvimos queixas, cobranças, reivindicações, mas também
conhecemos seus projetos e alguns elogios.
O balanço desta fuga de 10 dias inclui a certeza da necessidade, mais do que nunca, de ser presente, do tipo “pai/mãe-mala”. Aquele chato que pega no pé, cobra horários, exige respeito aos mais velhos e pergunta sobre os amigos e
lugares frequentados. Não existe novidade nisso, mas ainda é uma fórmula eficiente para não perder a piazada de vista.
Esta tarefa é muito mais complexa do que parece à primeira vista. Pais têm compromissos inadiáveis, são atingidos
pelo estresse que corrói nossas energias fundamentais na corrida pelo sustento. Por isso, a tendência é se jogar
no sofá, assistir o Big Brother (argh!), novelas, futebol ou passar horas debruçado sobre o computador.
É justamente nestas brechas que se perde o contato com a realidade que cerca os filhos, mina o controle necessário,
compromete a formação de cidadãos comprometidos com a responsabilidade.
Lá em casa sou enfático a ponto de parecer um daqueles pastores que circulam pelas praças do Brasil com um bíblia sob o braço: – Se vocês me contarem que pisaram na bola, vou ficar brabo, esbravejar, mas haverá perdão porque vocês foram sinceros. Mas se eu descobrir as mancadas de vocês por terceiros haverá uma briga feia, o estremecimento da coisa mais importante que existe entre nós: a confiança, a cumplicidade do bem!
Meus filhos conhecem o “sermão” a infância. Repito a cantilena semanalmente para mantê-los alertas. “Às vezes tenho
vontade de ’aprontar’, mas aí aparece um anjinho na minha cabeça que repete estas coisas e desisto”, confessa minha filha Laura, 19 anos de disposição permanente para as baladas.
Vejo com pesar que a concessão de celulares cada vez mais poderosos, IPhones de última geração e outras engenhocas
eletrônicas ocuparam espaço importante do convívio familiar. Compatibilizar a tecnologia com a convivência familiar é um desafio permanente para pais e educadores. É impossível proibir o acesso dos filhos à tecnologia, mas o bom senso, o equilíbrio e o comprometimento com a formação de pessoas dignas e responsáveis devem prevalecer.
Sob pena da proliferação do que vemos hoje: rebeldia, irresponsabilidade, desrespeito, depredações, abandono informal e aumento da criminalidade juvenil.