Na semana passada fiquei um bom tempo pensando no tipo de tratamento que daria à primeira etapa da série “autorretirada de Bento XVI do comando da Religião Católica Romana” Mundial.
Tratava-se,em primeiro lugar, de uma decisão raríssima, ou seja a única nos 598 anos mais recentes, o que requeria uma cuidadosa análise quanto à motivação da iniciativa do Sumo Pontífice.
Mais do que isso era necessário pesquisa e cautela na elaboração do texto, uma vez que os motivos poderiam estar ligados aos fatos que insistentemente circularam nos últimos meses, boatos ou não.
Assim sendo, optei por um caminho que permitisse dar ao Papa autodesligado o tempo por ele pedido.
Hoje, enquanto os eventuais porquês vão sendo revelados – ou não – aproveito para contar as agruras e os fatos, na maioria inaceitáveis, que levaram alguns Papas a sair ou “serem saídos” da Cadeira de Pedro.
Alguns exemplos:
Papa São Ponciano – julho de 230 a setembro 235.
Há 1778 anos (quase 18 séculos), o Papa São Ponciano foi exilado pelo Imperador Máximino na Sardenha, Ilha do Mar Mediterrâneo Ocidental.
Ponciano introduziu o Canto dos Salmos nas Igrejas e foi o responsável pelos termos “Dominus Vobiscum” e pelo “Confiteor”, antes da missa. Condenado a trabalhos forçados foi substituído pelo Papa Antero, em 235. Faleceu tempos depois, vitimado pelos esforços a que foi submetido.
É padroeiro da Ilha de Tavolato na Itália e seu dia é comemorado a 13 de agosto.
Papa São Silvério – de 536 a 537.
Há 1476 anos, Silvério nascia em Frosinone, na Itália, filho do Papa Hormisdas, que fora casado antes de se tornar padre e eleito Papa. Silvério não aceitou as condições impostas pela Imperatriz Teodora, mulher de Justiniano, que desejava perdoados todos os Bispos depostos por Agapito, o Papa anterior. Com a recusa, Teodora forjou uma carta de Silvério aos Godos, povo da Germânia, prometendo-lhes entregar Roma se ficassem do seu lado.
Acusado injustamente de traição, Silvério teve contra ele Virgílio, o novo Papa nomeado com o apoio de Teodora e Belisário, general bisantino. Foi desterrado para a Ilha Palmária e submetido a tratamento humilhante, mas mesmo no exílio não reconheceu a autoridade de Virgilio e enviou inúmeras e sábias leis à Igreja.
Após 3 anos desterrado, um historiador contemporâneo, Liberato, anunciou que Silvério, por ele e por muitos outros ainda considerado Papa, havia morrido de fome.
São Silvério é venerado como Santo pela Igreja Católica e padroeiro da Ilha de Ponza, onde foi martirizado até a morte.
Papa Celestino V – julho de 1294 a dezembro de 1294.
Há 719 anos, Pietro Angeleri, também conhecido como Pietro da Morrone foi eleito a 05 de julho de 1294, em processo de escolha que demorou 2 anos, em função de uma peste que vitimou um dos 12 Cardeais eleitores.
Exerceu o Pontificado durante meio ano, ao fim do que renunciou, porque suas atribuições não lhe permitiam levar uma vida de eremita, no caso “um penitente que gostava de viver só”. Ao ser eleito tinha 80 anos de idade.
Papa Gregório XII – 1406 a 1415.
Angelo Corrário nasceu em Veneza em 1326 e foi eleito Papa 80 anos depois. Sua ação mais marcante foi definir a Hóstia como único elemento da Missa, descartando o pão e restringindo o cálice ao Sacerdote.
Mesmo Papa, não compareceu ao Concílio de Pisa (1409) como também não compareceu o antipapa Benedicto XIII.
E os dois foram afastados de suas tarefas, por esse motivo.
E por aí seguem, conflitos, vontades, ambições e intrigas de toda ordem. É claro que tudo isso e mais dezenas de exemplos outros, fazem parte de épocas situadas séculos atrás e, sem nenhuma dúvida, o Papa Bento XVI jamais poderia ser comparado com qualquer demandante pouco qualificado, como a maioria dos que, àquela época, buscavam melhorar suas condições utilizando meios não recomendáveis.
Imagino que Joseph Ratzinger, nome com o qual foi batizado Bento XVI, pode ter pensado que a maneira como foi educado, todo o estudo que obrigou-se a fazer para ser útil ao máximo em todos os segmentos, até chegar ao Pontificado, merecem bem mais que agressões diárias a sua figura, ao seu status, ao seu comportamento.
Pode até vir uma surpresa, em meio a tudo o que já li e acompanhei sobre esse tema. Mas acho importante o mundo poder, ainda agora, contar com o conhecimento de Joseph Ratzinger para tentar o fim de boa parte dos grandes conflitos que atualmente agitam nosso planeta.
A contribuição da Igreja Católica quanto a esse detalhe seria por demais importante. Para todos.