“Fronteiras do Pensamento” é como se chama um evento realizado em Porto Alegre todos os anos, já há sete anos. Consiste numa série de conferências com pessoas de nome internacional. Pensadores, cientistas e políticos vem contar sobre as pesquisas que estão fazendo ou sobre os movimentos que conduzem. O objetivo é ajudar a compreender melhor o tempo em que vivemos. Todos podem participar. As falas se dirigem ao público em geral.
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Neste ano serão dez as conferências. A primeira já aconteceu. Foi no dia 6 de maio. A última terá lugar no dia 4 de novembro próximo. Em 6 de maio, falou uma estudiosa das religiões, a inglesa Karen Armstrong. O auditório estava lotado. Mais de mil pessoas. É muito interessante verificar quanta gente se interessa por ouvir um conferencista e por pensar, isso numa segunda-feira, ao fim de um dia de trabalho. Todas as conferências, por sinal, se realizam em noites de segunda-feira – com hora para começar e com hora para terminar.
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Karen Armstrong vem estudando há anos as grandes religiões do mundo. É autora de mais de 20 livros, onze deles também publicados em português.
Ela tem na base a experiência de ter sido uma freira católica. Viveu quatro anos num convento. Depois disso foi professora, até, enfim, retomar o estudo dos temas religiosos, começar a publicar livros sobre o assunto e ganhar fama internacional. Hoje se dedica principalmente a escrever.
Karen Armostrong mostra que as religiões tem uma forte base comum. Todas elas guardam o que chama de regra de ouro: “não tratar os outros como não queremos que nos tratem”. As pessoas em geral associam religião com acreditar em coisas. Mas, segundo Armstrong, o conhecimento religioso é um conhecimento prático, como nadar ou dirigir um carro. A religião é principalmente uma vivência, segundo ela.
As religiões se relacionam com a diminuição da importância do ego para poder se aproximar do outro. É por isso que a compaixão é um ponto que todas as religiões compartilham. Ter compaixão não significa ter pena do outro. Significa colocar-se no lugar do outro. Significa ser capaz de tratar a dor do outro como se fosse a própria.
Karen Armstrong acha que a principal tarefa do nosso tempo é construir uma comunidade global marcada pelo respeito mútuo. O desafio é colocar a compaixão no centro da vida das pessoas e das nações.
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Fico pensando com meus botões.
Se vivêssemos conforme a religião – qualquer uma, de acordo com Karen Armstrong – trataríamos a todos do mesmo modo como nós queremos ser tratados.
Pois bem. Neste caso, não teria o menor cabimento envenenar o leite que os filhos dos outros vão tomar. Coisa, que agora se sabe, acontece muito perto de nós.