– E agora?
Esta é a pergunta que nos fazemos todos. As manifestações estão nas ruas. Não resta nenhuma dúvida sobre a insatisfação dos brasileiros. Ninguém ousa dizer que faltam motivos para reclamar. A questão deste momento é outra. A questão é encontrar o melhor jeito de escrever o próximo capítulo.
Será que tudo vai ficar como antes no quartel de Abrantes? Será que o costume de mudar para não mudar entrará em cena? Será que o povo terá as respostas que espera? Ou será o quê?
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A batata quente foi parar onde tinha mesmo de parar: na mão de quem comanda este país. A mesma lógica vale para uma empresa, para um time de futebol e para o país. O líder recebe as homenagens, quando acerta, e é o alvo de cobrança, quando as coisas não funcionam bem. Até aí nada a declarar.
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Há muitas dúvidas sobre o caminho da saída para o presente embrulho.
Sim, o povo reclama do preço do transporte público, mas não parece que baixar tarifas vai modificar o nível de insatisfação. Sim, o povo grita por saúde e etc., mas não parece que as atuais propostas conseguirão acalmar os ânimos.
No meu entender, antes de propor saídas de emergência, o governo deveria vir a público e humildemente reconhecer seus erros. É um equívoco ocupar o espaço simplesmente com mudanças afobadas. Botar a mão no saco de bondades e retirar passes-livres e que-tais, não é a solução. Daqui a pouco a conta vem. Todo mundo sabe que ninguém almoça sem pagar. De um jeito ou de outro a conta vem. Acho que o momento pede muito mais que mudancinhas. É preciso achar o caminho da mudança.
Temos que aumentar a eficiência com que operamos, temos de diminuir impostos, temos de desburocratizar, é preciso punir quem sai da linha – pequenos ou graúdos, tanto faz. É preciso mexer no processo todo, não apenas retocar a maquilagem.
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Muito da bagunça que nos incomoda foi escolha de quem está aí e até agora não vi ninguém chorar de arrependido. Para só ficar com um caso, lembremos o número de ministérios no executivo federal: trinta e nove. A multiplicação dos ministérios tem a ver com desperdício de recursos públicos, com burocracia, com empreguismo. Como mudar sem reconhecer erros como este?
Eu acho que o governo poderia até pedir um tempo para ouvir mais e para pensar melhor. Se falasse com total sinceridade, o pedido poderia ser aceito. Esta tática de botar band-aids em cima das feridas fundas, sei não… Pneu recauchutado até sai rodando novamente. Mas a felicidade não costuma durar muito.