Aqueles que têm mais quilometragem devem lembrar do frio que fazia antigamente. Antigamente fazia muito mais frio do que hoje em dia. Ao menos, é isso que permanece na memória.
Nesta sexta-feira de temperaturas mais amenas, é menos dolorido recordar aquele frio cortante. A gente lembra numa boa. Nem fica com vontade de chorar.
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Parece que antigamente era muito mais frio.
Também pudera! A maioria morava em casas de madeira, casas que esfriavam barbaramente ao cair da noite.
A roupa quente era escassa. Mulheres e meninas usavam vestidos que batiam pela altura do joelho e quase não havia meias, nem curtas nem compridas. O máximo que se usava era uma calçona de pelúcia, colocada por debaixo do vestido.
A função de aquecedor e de ar condicionado era preenchida pelo fogão a lenha que, lógico, ficava pregado na cozinha.
Os sapatos que molhavam não tinham substituto.
Ninguém nem imaginava que pudesse sair água quente da torneira. Aliás, raramente havia água encanada. E o banho… Ora, o banho era uma tragédia que, por sorte, não se precisava encarar todos os dias.
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Muitas crianças tinham de caminhar quilômetros até chegar na escola.
Como regra, os pés iam metidos em chinelos ou tamanquinhos de madeira. Nada de meias. Nos dias de barro, o melhor era levar na mão o calçadinho, para tê-lo limpo depois, dentro da sala. Então, as crianças caminhavam com os pés descalços, mesmo se a geada tivesse congelado as trilhas por onde tinham de passar. Lavavam seus pezinhos em alguma poça próxima da escola, se enxugavam como dava e voltavam ao conforto dos chinelos ou tamancos de madeira. Ou de um par de alpargatas, quando o luxo era maior. Dá bem pra imaginar o impacto da água naqueles pezinhos doloridos, depois, a dureza do calçado em contato com a pele esfolada pelo frio.
As crianças iam para a escola usando um casaquinho ralo. Não pensavam em luvinhas, nem em mantas de lã, nem em gorros bem quentinhos. As meninas iam com seus vestidinhos e, na falta das calçonas de pelúcia, traziam as pernas azuladas pelo frio.
Se chovesse, era possível faltar na escola. Ainda bem, porque guarda-chuva era objeto pouco conhecido.
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Tivemos frio pra ninguém botar defeito na semana anterior.
Mas estamos hoje em dia muito melhor aparelhados para enfrentar o frio brutal do inverno.
Mesmo as temperaturas negativas não nos pegam mais sem armas de defesa. Viva a parafernália salvadora! Viva os aquecedores, os lençóis térmicos, as meias de lã, as botas, os cuecões e tudo o mais!