No sábado passado foram comemorados os três anos da retomada da Feira na Praça – evento que acontece aos sábados na rua coberta. Ali se comercializam frutas, verduras, petiscos caseiros e artesanato local.
Três anos é um marco. Sabemos que a maioria dos empreendimentos morre bem antes de completar esta idade. Então, parabéns para o pessoal que se mantém firme, levando adiante a iniciativa e disposto a incrementar o que aí está.
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Uma pequena cerimônia marcou a passagem do terceiro aniversário e eu tive a sorte de estar lá para ouvir o pessoal envolvido.
Quem falou fez questão de frisar que o evento dá chance para uma experiência bem singular. Isto em função de duas razões principais.
Primeira: na praça, quem vende ao mesmo tempo produz. Do outro lado, quem compra pode conhecer quem produz e com ele criar uma relação de confiança. Quem compra não está interessado no produto somente; tem uma relação mais natural com aquilo que compra. Por exemplo, reconhece os produtos que são da estação e aceita esperar que os produtos em falta só cheguem na outra estação.
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Antes de dizer que isto é uma coisa bem mixuruca, vale lembrar que esta é uma experiência cada vez mais rara na vida moderna. A vida moderna faz parecer que os produtos surgem do nada. Parece que brotam da prateleira do super. O caso de frangos pode ajudar a entender. A produção de frangos se dá em locais diferentes, um local para os ovos, um local para os pintos, outro local para a engorda; depois vem o pessoal do transporte; o pessoal que abate; o pessoal da embalagem; de novo o transporte e a prateleira do super.
A experiência moderna fica restrita ao ato da compra. O trabalho anterior é apagado, a figura do produtor se divide e praticamente se perde entre braços anônimos.
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O segundo motivo que torna especial a experiência de compra na praça é social. O sábado dá chance para encontrar conhecidos em situação informal. Entre cenouras e ovos, há tempo para um dedo de prosa sem a pressão dos horários.
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– A feira pode ficar ainda melhor?
– Claro. Sempre.
Aqui vai uma sugestão.
Como freguesa da feira, gostaria de encontrar mesa e cadeira na praça. Gostaria de parar ali mais um pouco. Descansar minha sacola no chão e tomar um café de chaleira. Seria bom encontrar um café, uma fatia de cuca ou de pão e, com gente ao redor, ter a chance de espichar mais um pouco o gosto do sábado.
Depois, voltar para casa abastecida de corpo e de alma.