Os feitos gaúchos têm sido bem celebrados. Vinte de setembro é o ponto alto, mas o gauchismo é exaltado o ano inteiro. Em livros, em filmes, nos CTGs. Pouca gente não tem uma pilcha; a maioria toma chimarrão; muitos falam “tchê”. As crianças aprendem sobre a guerra dos Farrapos ainda antes de aprender a ler. Aliás, esse nosso orgulho, o amor do passado, a imodéstia, etc. nos tornam alvo de piadas em todo o Brasil. (Não sei se é por que fica fácil tirar um sarro ou se haverá também um pouco de inveja, ou se as duas coisas vem juntas, não sei.)
O fato é que a gauchada nem se importa. Continua cantando o hino rio-grandense até em primeira comunhão.
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Interessante observar que uma obra como “O tempo e o vento” de Érico Veríssimo não tem par no país. É uma espécie de epopéia. Colocando uma família no centro, conta os feitos heróicos do povo do sul. Coisa parecida faz o livro “A casa das sete mulheres”, que igualmente retrata a história de bravos e foi grande sucesso ao ser exibida na TV há alguns anos atrás. Em se tratando dos gaúchos, poucas vezes se fala de ignorância, de pobreza e de mau-caratismo. Os peões são valentes, leais e honestos e isto se pode ver já na famosa coletânea de contos de Simões Lopes Neto, os “Contos gauchescos”, publicados há quase um século.
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Ainda não assisti ao filme “O tempo e o vento”, direção de Jayme Monjardim, estreado no dia 20 de setembro último, mas vou. Fernanda Montenegro, Thiago Lacerda e Cleo Pires são as estrelas do elenco.
Já se sabe que crítica não caiu de amores pela fita. Da minha parte não me importo muito com isso. Com ou sem o aplauso dos entendidos, é emocionante ver na tela a bravura dos homens e a coragem das mulheres do sul do país. Foi também assim nas filmagens anteriores. Esta história já foi para os cinemas em versão do ano de 1956, de 1971 e 1972. Para a TV, foi em 1967 e em 1985 e a gauchada vibrou com todas elas.
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Por outro lado, os livros e filmes que contam histórias da colônia, onde se estabeleceram os pequenos agricultores aqui no Estado, são muito menos conhecidos do que estes com temas gaudérios. Em parte, talvez, por que esses colonos não tiveram muita disposição para nada que não fosse o trabalho. Roça, enxada e festa de igreja é um trio de pouco glamour. A monotonia da labuta não se compara ao charme das correrias dos heróis e seus cavalos garbosos pelos campos sem fim.