Estou me preparando para sair em viagem. É sempre um alvoroço. Parece que tudo se acumula nos últimos dias e que rouba das malas a atenção que as malas precisam ganhar.
Noves fora a afobação, o desafio principal é aproveitar bem a viagem. Mas aí é que são elas. Isso parece barbada. Só parece.
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A preparação é fundamental, dizem todos. Seja qual for o destino – Panambi ou Europa – cabe caprichar na preparação. Isto implica principalmente duas coisas: informação e bagagem.
No capítulo da informação, recomenda-se ler tudo o que é possível sobre o roteiro a ser feito, também conversar com quem já esteve nesses lugares. Saber o que se vai encontrar aumenta o encanto. A gente ama melhor aquilo que conhece melhor.
Sobre bagagem, ao longo dos anos desenvolvi uma lista de 30 itens. Vai desde a quantidade de roupa que eu recomendo pra mim (sempre pouca) até utensílios como termômetro, adaptador para a corrente elétrica e um canivete. É claro que erro muito, mas ao menos não me deixo sair com uma mala pesada…
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Recentemente me emprestaram um livro excelente. O título: “A arte de viajar”, autor: Alain de Botton.
Em cinco capítulos e quase 300 páginas, Alain de Botton fala de muitas coisas. Também, do desejo que o viajante experimenta de tomar posse da beleza que encontra. Circular por paisagens estranhas parece insuficiente. O viajante quer guardar consigo o que vê. Um jeito de fazer isto é se atirar às compras. Acumular lembranças e tralhas pode dar sensação de que a viagem nunca termina.
Outra maneira de se apossar da beleza é gravar o nome nos locais visitados. Às vezes os viajantes até se arriscam para escrever nas paredes, nas rochas, etc. Querem provar que estiveram ali e que ali permanecem.
Tirar fotos é provavelmente a forma mais popular de levar para casa a viagem. Mas, ao contrário do que parece, a preocupação com fotografias pode impedir de aproveitar a paisagem. Você não olha a coisa diretamente. Você olha através do visor da câmara. Depois, em casa, é bem capaz de notar que perdeu a emoção do momento e que fotografar acabou sendo um jeito de não olhar.
A conclusão de Alain de Botton é singela. Para ele, a única forma de possuir a beleza é olhar sem pressa. Observar. Procurar entender por que uma cena nos comove ou encanta. Botton acaba sugerindo que o viajante desenhe algumas paisagens. O ato de desenhar ensina a olhar – ele diz.
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Pelo sim pelo não, de agora em diante minha lista de viagem passa para 31 itens. Vou levar um caderno de capa grossa e um lápis bom de desenho. Mas que ninguém peça para ver os rabiscos depois. Isso não, violão.