Vale do Taquari – A região conta com uma das melhores infraestruturas para o escoamento da produção do Estado. Cortada pela BR-386, liga o norte do Estado à região metropolitana. Estrela é onde se encontram aquelas que poderiam ser o trampolim para o fortalecimento local: o Porto, que conta com uma ferrovia e está próximo da rodovia; e um aeródromo.
Porém, a insistência dos governos em beneficiar o transporte rodoviário, aliada às faltas de planejamento e de investimentos em outros setores dificultam um provável impulso no crescimento da região. O presidente da Câmara da Indústria e Comércio do Vale do Taquari, Oreno Ardêmio Heineck estima que cerca de 25% a 30% das cargas de mercadorias daqui aproveitadadespachadas iriam pelos modais hidroviário e ferroviário.
“Há um contra fluxo de recebimento de insumos que também seria representativo. E isto representaria uma economia fantástica em termos de custos logísticos, e fundamental para assegurar a competitividade da nossa economia” expõe.
Ao longo das últimas décadas, segundo o deputado estadual Lucas Redecker (PSDB), investimentos fundamentais deixaram de ser feitos nesses modais, o que contribuiu para o sucateamento dessa estrutura. “É importante dizer que o Vale do Taquari está localizado em um contexto logístico estratégico no RS, tendo um dos mais importantes entroncamentos rodo-ferro-hidroviário do Estado.”
Quanto às estradas da região, ainda hoje principal meio para escoamento da produção agrícola e industrial, estão em condições cada vez piores. Elas estão esburacadas, sem acostamentos e sem receber investimentos.
Para que a estrutura “desencalhe”, são necessários procedimentos burocráticos, além de parcerias. A primeira preocupação que está sendo trabalhada pelo governo federal é a dragagem do canal de navegação para assegurar que a hidrovia seja utilizável o ano inteiro.
É fundamental para o Porto trabalhar, com as operações públicas ou privadas, para que haja condições do tráfego regular dos barcos. Quanto à eventual municipalização da estrutura, a redação do jornal O Alto Taquari procurou a Administração Municipal de Estrela, que não se manifestou.
Parcerias público-privadas
Redecker cita que logo no primeiro ano de mandato na AL, criou a frente parlamentar de fomento e apoio às parcerias público privadas, que já tem sido largamente utilizadas em países de primeiro mundo e em alguns estados brasileiros, menos no Rio Grande do Sul. “Diante da impossibilidade do ente público em fazer os investimentos que a sociedade espera e precisa, é preciso buscar o apoio da iniciativa privada para concretizá-los”, disse o parlamentar.
Ele apresentou também emendas ao Orçamento do Estado para garantir recursos para obras viárias importantes para o Vale do Taquari, como a duplicação da RS 130/129/453, pavimentação da RS 129 (entre Roca Sales e Colinas), pavimentação da Rota do Leite, entre outras, que o governo não acatou nem executou. “Agora estamos trabalhando pela reativação do Aeródromo de Estrela bem como para manter o traçado da Ferrosul passando pelo Vale do Taquari.”
Longe de levantar vôo
O aeródromo, localizado na Linha São José, em Estrela está interditado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Estrutura atual precisa ser amplamente corrigida, para que aeronaves possam pousar e decolar dali. Conforme o presidente da Câmara da Indústria, Comércio e Serviços de Estrela (Cacis), Henrique Purper, vários empresários da nossa região gostariam de poder usar este meio de locomoção, tanto profissionalmente como de forma particular.
“Há vários empreendedores que têm aviões e helicópteros fora da região. Também temos várias queixas de empresários que gostariam de chegar à região utilizando este meio de transporte.” Um exemplo, segundo Purper, é um empresário com investimentos em Fazenda Vilanova, e diz que esta é a região do Brasil em que ele possui negócios onde não consegue chegar de avião.
Purper acrescenta que o Poder Público trabalha para que o aeródromo seja liberado, mas não informou quais ações estão sendo realizadas. “Assim estaremos novamente no radar de aeroportos regionais do País. Sabe-se que o governo federal quer investir nesta área em todo o Brasil, mas o nosso não está na relação dos possíveis por não estar em funcionamento”, lamenta, considerando que o modelo de gestão mais adequado é o privado. “Os governos, tanto municipal, estadual e federal não terão recursos para investir nesta área e certamente não vão fazer andar.”
Porto e Ferrovia com pouca conexão estrutural
A primeira condição para que o modal fluvial do Porto funcione a pleno vapor é a navegabilidade do rio entre Estrela, Porto Alegre e Rio Grande, e também a solução de outras questões estruturais. “Enquanto não estiverem resolvidas, não adianta gestão pública ou privada”, declarou Heineck. Para ele, quando estes obstáculos forem sanados – e a expectativa é até o primeiro semestre do próximo ano – a gestão com maior eficiência pode ser a da iniciativa privada, que terá a visão do ganho e terá na operação do Porto um negócio. “E ainda não terá as amarras legais que a pública tem.”
Redecker propõe que, caso o Estado não tenha condições de gerir a estrutura, que faça uma gestão compartilhada. “O que não pode ocorrer é a sociedade ficar desamparada, como está acontecendo. A concessão de serviços tem sido uma alternativa largamente empregada, porém desde que o Estado não perca o poder de fiscalização sobre os prestadores de serviços”, disse. O parlamentar completa que se o RS tivesse independência financeira, a gestão pública seria a maneira menos onerosa para o cidadão e daria um retorno maior para o contribuinte, porém isso não é uma realidade hoje.