Biografia, como se sabe, é a narração dos fatos da vida de alguém. O número de biografias que são escritas constitui uma forma de medir a importância que as pessoas têm. Quanto mais famosa uma pessoa é mais interesse ela desperta. Sobre Napoleão Bonaparte, por exemplo, escreveram-se mais de 400 mil biografias. Sobre Abrão Lincoln, já apareceram cerca de quinze mil. Sobre Marylin Monroe, mais de duzentas. Sobre tu e eu, muito provavelmente nunca haverá nenhuma…
Existem as biografias autorizadas e as biografias não autorizadas. As primeiras são publicadas com a cooperação da personagem em foco ou dos seus herdeiros. As outras, aparecem sem o consentimento de ninguém.
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No Brasil, até agora, só é possível publicar biografias com autorização. Na falta de autorização, o biografado ou seus herdeiros podem impedir a publicação ou suspender a venda do livro, mesmo se ele já estiver nas livrarias. Foi exatamente o que aconteceu em 2006, quando Roberto Carlos ganhou na justiça o direito de retirar de circulação o livro “Roberto Carlos em detalhes”. Foi um caso rumoroso. Milhares de livros já tinham sido vendidos e outros milhares foram recolhidos para os depósitos do cantor.
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Nas últimas semanas tem havido muita discussão sobre o assunto. Personagens importantes entraram em cena. Um deles é Roberto Carlos, de novo. Além dele, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan e outros, que compõem o grupo denominado “Procure Saber”. Este grupo se posicionou a favor da manutenção do dispositivo legal que permite o veto às biografias não autorizadas. Consideram que tem o direito de proteger sua vida da curiosidade alheia. A publicação de biografias não autorizadas agride o direito à privacidade – segundo eles.
Do outro lado da polêmica se encontram escritores, editores, livreiros e boa parte da opinião pública. Para estes, impedir a publicação de biografias só por que elas desagradam os famosos afronta o princípio da liberdade de expressão e o direito à informação. Seria uma forma de censura que não tem cabimento num país democrático.
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Como princípio, parece que a maioria das pessoas acha que tem o direito de falar/escrever o que quiser. No caso de faltar com a verdade, aceita sofrer a punição prevista para os mentirosos.
Agora, quando a pessoa se coloca na pele dos famosos, a coisa pode mudar. Quase todo mundo gostaria de editar a sua vida e ficar apenas com os melhores momentos. Apagar alguns lances. Fazer de conta que eles nunca existiram.
O assunto, como se vê, ainda vai dar o que falar. É pano para manga de todos os tamanhos.