O ciclo de conferências “Fronteiras do Pensamento”, se realiza todos os anos em Porto Alegre, trazendo ideias e pesquisas meio fora do comum. São ideias e pesquisas que ficam exatamente na fronteira entre o conhecido e o desconhecido. Um território feito de areia movediça, portanto. Os porta-vozes das tais ideias e pesquisas tiveram de ralar muito até chegar ao ponto de reunir pessoas interessadas em ouvi-los. A maioria está bem longe da aceitação geral. É o caso de Peter Singer que fala do direito dos animais ou de Paul Zak que relaciona hormônios com generosidade e compaixão, por exemplo.
É por isso mesmo que um dos slogans utilizados pelo “Fronteiras do Pensamento” a convida a desafiar certezas.
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Desafiar certezas é uma frase boa. Agora, se a gente pensar bem, vai ver que ela é assustadora. Acontece que as certezas que vamos reunindo ao longo do caminho se transformam num refúgio que não gostamos de perder. Da mesma forma que não gostamos de abandonar o nosso teto. As certezas valem por um teto e por um chão. As certezas oferecem segurança – ou impressão de uma segurança que todos gostaríamos de ter.
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Porém…
Acontece que não se alcançam mundos novos debaixo dos velhos tetos. Desafiar certezas é um jeito de botar ar fresco nos porões e arejar o entendimento.
Desafiar certezas pode nos manter vivos por mais tempo. Como todo mundo sabe, a fila anda. Anda a fila dos amores; anda também a fila das verdades.
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Quem acha que mudar é impossível pode pensar no que aconteceu com o fumo. Não faz nem tanto tempo assim que alguns “malucos” começaram a falar nos malefícios do cigarro. No começo, foram alvo de chacota. Fumar era bonito. Dava status. Quem não fumasse mostrava estar por fora. Fumar estava associado com charme e com independência.
Com aplauso ou sem aplauso, os malucos não pararam de falar contra o cigarro. Resultado: no Brasil, o percentual de fumantes caiu 45% em vinte anos. Hoje apenas 12% dos brasileiros fumam.
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Ou seja, quando encontrar alguém coberto de certezas, dê uma volta. Os dinossauros também deviam seguir confiantes, enquanto o mundo ao redor mudava. No fim, o mundo continua aí. Quem dançou foram exatamente eles – os dinossauros.