Andei numa febre de assistir filmes com o ator Anthony Quinn (1915 – 2001). O pessoal jovem provavelmente não sabe de quem estou falando. Mas a velha guarda sabe. Nós cultivamos uma admiração impar por esse homem que fez teatro, fez cinema, foi escultor e ainda pintou quadros.
No cinema, Anthony Quinn criou personagens memoráveis. Nem vou fazer muita propaganda. Fico apenas com alguns filmes: Viva Zapata (1952); Os canhões de Navarone (1961); Lawrence da Arábia (1962) e Zorba, o grego (1964).
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– Por que estou puxando um assunto morno como este, justamente na época do ano que é campeã em agitação? Por que este assunto bem na hora em que todo mundo está “por aqui” de tarefas e de preocupações?
– Bom, por isso mesmo.
Estou tentando botar nossa atenção em qualquer lugar que não seja no som do Jingle Bells. A comercialização do fim do ano é cansativa. Não só pela decoração que desde outubro tomou conta. É também toda essa pressão por ser feliz. É o dever de dar presentes. A intenção até pode ser muito boa, só que a obrigatoriedade mata.
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Ok, também queria falar de Anthony Quinn. E destacar uma ideia que é forte no filme “Viva Zapata”. Nesse filme, Anthony Quinn faz o papel de irmão do líder Zapata. Emiliano Zapata foi um revolucionário mexicano do início do século XX. Chefiou uma revolta para repartir terras na província de Morelos. Pois bem, a certa altura Zapata diz que um povo forte não precisa de um líder forte. E é está a frase que eu queria sublinhar. Um povo forte não precisa de um líder forte.
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O filme quer dizer que é preciso fortalecer o povo em vez de depositar toda a esperança no seu líder. Líderes viram caudilhos facilmente. Líderes podem nunca mais querer largar o trono. Quem deve ficar no poder é o povo. O povo tem de conduzir o líder, não é o líder que decide em lugar do povo.
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Fiquei pensando nessa frase: um povo forte não precisa de um líder forte. Aí está uma ideia que pode se estender para além da situação política. Seria bom se a gente conseguisse ser forte dentro de si mesmo. O ideal é ser forte o suficiente para conduzir a própria vida fora do cabresto da propaganda, independentemente de modismos ou da opinião alheia.
Fiquei pensando como é fácil terceirizar a vida, ou seja, deixar que outros mandem nela.
Fiquei pensando que escolher o jeito como se quer viver pede uma brutal coragem. Coragem do tamanho que Zapata tinha.