Uma conversa com amigos rendeu bem na última semana. Fazia um calor tremendo e todo mundo se queixava. A temperatura rondava os 40 graus e volta e meia a energia tinha seu fornecimento interrompido.
Foi aí que alguém puxou recordações do tempo antigo. Hoje em dia tudo pode parecer muito engraçado, mas na hora não era nada disso. A gente viveu aquilo a sério..
* * * *
Era o tempo em que ninguém não ouvira nem falar em ar condicionado. Nem nos filmes, nem nos livros que nós líamos havia a sugestão de que se podia regular a temperatura ambiente. Nós acreditávamos que o verão fazia sofrer com o calor e que o inverno judiava com o frio. A vida era assim e ponto. Nem ventilador se tinha em casa. O recurso era abrir portas e janelas e deixar “puxar” um vento – como se dizia.
Havia os leques, um instrumento de uso das mulheres. Homem não se abanava; homem aguentava. Pena que o ventinho do leque não chegasse a compensar o esforço do braço. Mas, fora os leques, nada. Nem água gelada, que as geladeiras ainda não tinham se tornado populares.
* * * *
As noites de verão da nossa infância são inesquecíveis. Ao calor se somavam os mosquitos. Os mosquitos eram nossa infalível companhia. Quem conheceu o zumbido deles jamais esquece. Aí vinha um dilema de impossível solução. A gente atravessava a noite suando debaixo do lençol ou ardendo das picadas dos mosquitos. Preferir o quê?
Algumas táticas para enfrentar mosquitos existiam. Havia uma plaqueta verde com formato de espiral chamada Boa-Noite. Servia para esfumaçar o quarto. Infelizmente o Boa-Noite garantia pouca coisa. Primeiro, porque os mosquitos não davam muita bola; segundo, porque terminava antes de terminar a noite; terceiro, porque o cheiro e a fumaça colaboravam com o drama.
Também tinha a máquina de detefon – como chamávamos. A gente espalhava veneno com a máquina: futch, futch, futch. O resultado era igualmente duvidoso, com o agravante de o quarto permanecer fechado e nós, obrigados a ficar ali, trancados e respirando o veneno junto com os mosquitos.
* * * *
Ou seja, quando alguém aí se queixar do calor, nossa geração tem muita, mas muita vantagem pra contar.