Venho pensando no caso todos os dias. Desde que os jornais publicaram acontecimentos espantosos no estado do Maranhão, acho difícil deixar de lado o assunto. Mas tão difícil como parar de pensar é encontrar um jeito de entender o que passa. Refiro-me, de um lado, aos acontecimentos violentos no complexo penitenciário de Pedrinhas, no Maranhão; do outro lado, às encomendas feitas para a cozinha da governadora.
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Ou melhor, o difícil é parar de pensar na naturalidade com que governos gastam dinheiro para adoçar a própria vida. Gastam sem proporção com a realidade ao redor. Como se sabe, governos não geram renda. O dinheiro que gastam vem dos impostos que o povo recolhe com o suor do seu rosto. Deste modo, seria de esperar que os governos cuidassem de cada centavo.
Mas qual. No retorno de sua última viagem à Europa, por exemplo, a Presidenta da República se hospedou em Lisboa pagando mais de dez mil reais de diária. E isto nem foi tanto. Em Nova Iorque já tinha escolhido ficar em hotel de 22 mil reais por noite.
Diga-se de passagem, que, nos dois casos, a Presidenta teria encontrado pousada na embaixada brasileira, sem precisar fazer desembolso.
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O Maranhão é o estado brasileiro com a maior porcentagem de pobres. Mais de 26% da população vive abaixo da linha de pobreza. Isto quer dizer que cerca de 1/4 da população se vira com menos do que R$ 70 por mês.
Pois é exatamente lá que a governadora precisa servir lagosta ao preço de exatos R$ 79,67 por Kilo ou bacalhau a R$ 88,67 – conforme aparece na licitação publicada pela imprensa oficial do Maranhão. Ou seja, um Kilo de pescado na mesa e já terá sido gasto um valor superior ao que uma pessoa dispõe para todas as suas necessidades ao longo de um mês inteiro.
Também é lá que a governadora solicitou um suprimento anual de ração para os peixinhos que enfeitam o aquário, ao custo de R$ 108.000,00. Veja só. Se dividirmos a ração pelos dias do ano, descobriremos que a comida dos peixes custa por dia quase R$ 300; num mês, já serão R$ 9.000 – montante bem superior ao que mais de uma centena de miseráveis dispõe para viver.
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Em todo este cenário, é intrigante notar que às vezes os seres humanos tem dúvidas sobre a igualdade que existe entre si. Todos nascemos e morremos. Todos precisamos de abrigo e comida. Todos temos direitos. A Constituição brasileira declara que somos todos iguais perante a lei.
Mas como é, então, que alguns se acham no direito de tudo, mesmo quando ali, ao redor, a outros tudo faz falta?