Não sei vocês, mas eu acho cansativas as mensagens de Ano Novo. O costume de desejar mundos e fundos é parecido com teatro de palavras ocas. Fico aborrecida com esse negócio de augurar total sucesso e uma felicidade full time, derramada sobre os 365 dias vindouros.
Ainda bem que estamos saindo dessa temporada de patranhas. Ufa!
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A cantilena de Boas Festas me soa como discurso de campanha eleitoral. Tudo fica prometido, tudo vai ser feito ou consertado. O melhor dos mundos vai baixar. Depois… bom, depois é o que se sabe. Entra a vida real e não tem como.
Pelo menos, é assim na minha casa: a vida real come, dorme e faz serão na minha casa. Não tem alegria o tempo todo. Na minha casa não baixou a perfeição. Na minha casa tem as horas boas e as nem tanto assim. Tem preocupação e tem cansaço. Na minha casa, às vezes, bate a sensação de que faltam coisas, sejam coisas-coisas mesmo, sejam os anseios por nem sei-lá-bem-o- quê.
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É por isso que adorei a mensagem de Boas Festas recebida de um amigo. Ele fez votos de que 2014 fosse um ano suficientemente bom.
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Suficientemente bom. Está aí um tema do maior relevo: ter o suficiente. Sentir que o que se tem é suficiente e que é bom o que se tem. Gostar do que se tem, em vez de espichar o olho para a horta do vizinho. Estar satisfeito, em vez de ter inveja ou de chorar o que não há.
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Mais. Penso que um ano suficientemente bom não será aquele de parar com tudo, de abrir mão de projetos e progresso. Ao contrário, é a alegria do suficiente que encoraja o crescimento. Aliás, todo o mundo sabe que o crescimento não resulta do azedume. O crescimento não se dá bem nem com vaidade, muito menos com a cobiça.
Suficientemente bom inclui cultivar o aperfeiçoamento permanente. Ter o suficiente não impede de sonhar sonhos mais lindos, nem de batalhar para chegar mais perto deles.
O suficientemente bom acolhe a abundância do presente e prepara a abundância que virá.
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Como se vê, encontrei, enfim, a mensagem de Ano Novo que queria ter mandado a todos na virada, especialmente àqueles que me honram com a sua companhia neste cantinho do jornal:
Que 2014 seja suficientemente bom para todos nós!